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set/2012

A guerra do trânsito

De hoje a 25 de outubro, ganha destaque um dos  temas mais trágicos da crônica de violências no Brasil. Trata-se da arma  mortal em que se transformou a combinação direção, condutor e pedestre.  O asfalto brasileiro rouba mais vidas que guerras. Vale a comparação.  Em 18 meses de conflito na Síria, morreram 27 mil pessoas. Em um ano, 50  mil brasileiros tombaram em ruas e estradas. Custo dos acidentes: R$ 40  bilhões anuais contados danos materiais, perda de produção,  previdência, atendimento à saúde.

As cifras são alarmantes. Além  dos que partem precocemente, há que levar em conta os incapacitados para  o trabalho. Em meia década, de 2005 a 2010, a quantidade de vítimas  quintuplicou. De 31 mil, passou para 152 mil por ano. Elas respondem por  mais de 31% das aposentadorias compulsórias por invalidez permanente  pagas pelo Instituto Nacional de Seguro Social (INSS).

Com razão, o  ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou os números de  “verdadeira epidemia de lesões e mortes no trânsito”. São várias as  causas do descalabro. Elas podem ser agrupadas sob o guarda-chuva  ambiente hostil. As ruas e estradas, perigosas, não perdoam falhas. A  circulação é insegura, sobretudo para os ciclistas. A frota, embora  esteja melhorando os equipamentos de segurança, não atende as exigências  modernas. A fiscalização é ausente.

Fatores humanos se somam ao  descaso da engenharia. Motoristas desrespeitam os limites de velocidade  com a desenvoltura com que estacionam para tomar um cafezinho.  Negligenciam itens de segurança. Falta educação e civilidade no  trânsito. A formação do condutor, superficial e apressada, é  insuficiente. O pedestre, elo fraco da corrente, tampouco contribui para  salvar a própria vida — desconsidera sinais, faixas e sobriedade. Não  raro atravessa vias em estado de embriaguez.

O aumento explosivo  da frota contribui para a barbárie. Mas não a justifica. Os Estados  Unidos, com população 50% maior que a nossa e frota cinco vezes  superior, registraram, em 2011, 32 mil óbitos — menos que em 1960. A  redução não se deve a milagres. Deve-se à correção dos erros de  engenharia nos espaços públicos e à adoção de medidas de segurança.

No  Brasil, o quadro se agrava. O transporte de massa ruim alimenta o sonho  de independência. Quem pode compra carro. Quem não pode contenta-se com  moto. A frota multiplicou-se. Motociclistas morrem mais que pedestres.  Para cada óbito correspondem 50 feridos. No caso do carro, para cada  óbito são 20 feridos. Passou da hora de mudar o enredo da tragédia. O  Brasil sabe o que fazer. Mas não faz. Por quê?

Fonte/Autor: Correio Braziliense

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