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out/2012

Apagão na luz e na confiança

O blecaute de ontem no Nordeste e em parte da Região Norte deixou milhões de pessoas no escuro e pôs em xeque o sistema elétrico do país. O próprio ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, admitiu que a credibilidade do setor está abalada. Foi o quarto incidente desde setembro. Especialistas consultados pelo Correio afirmam que falta fiscalização e manutenção nas linhas de transmissão.

Governo admite que o sistema de distribuição de energia do país é inseguro. Norte e Nordeste têm novo apagão.

Antes considerado uma das áreas mais eficientes do governo, o setor energético sofreu mais um duro golpe. Todos os estados do Nordeste e parte da região Norte ficaram no escuro por pelo menos quatro horas a partir de 0h14 de ontem. Esse foi o quarto apagão desde setembro, o que levou o ministro interino de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, a admitir que o sistema elétrico brasileiro não é mais confiável. Foi ele, por sinal, quem comunicou à presidente Dilma Rousseff o incidente que deixou mais de 53 milhões de pessoas no escuro. Responsável pelo modelo em vigor hoje no país, Dilma não escondeu a irritação. E cobrou medidas urgentes para minimizar as críticas de ineficiência que estão recaindo sobre a sua administração.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a interrupção no fornecimento de energia decorreu de um curto-circuito que afetou o funcionamento de um capacitor da linha de transmissão Colinas-Imperatriz, entre o Tocantins e o Maranhão. O trecho é operado pela empresa Taesa, que tem a Cemig como principal acionista. Na Bahia, conforme a Empresa Baiana de Água e Saneamento S.A. (Embasa), a falta de energia provocou a paralisação do sistema de bombeamento que abastece Salvador. Os hospitais do Ceará também foram afetados e deixaram de fazer cirurgias. No Recife, os transtornos foram enormes e a violência aumentou nas ruas escuras.

Uma reunião de emergência do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) foi convocada para dar explicações a um país atônito diante dos tormentos provocados pela sequência de apagões. Uma análise preliminar de técnicos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), do operador do sistema e da Taesa apontou que uma descarga elétrica pode ter afetado as linhas de transmissão, uma vez que chovia na região. “Não é uma desculpa para nos escondermos atrás de um fenômeno natural. Nosso objetivo é investigar porque a proteção falhou”, disse o presidente da Taesa, José Ragone.

Alvo de críticas e de pesadas cobranças, Zimmermann foi taxativo ao descrever a frágil situação em que o país se encontra. “Não é normal que esse tipo de acidente ocorra no sistema elétrico, que foi planejado para ser confiável”, disse. Os riscos de que outros apagões ocorram são enormes e essa ameaça só diminuirá quando, efetivamente, o governo descobrir o que está errado. Diante desse quadro assustador, o ministro interino acrescentou que estão em curso inspeções nas linhas de transmissão operadas por companhias do setor — várias delas, sucateadas — para tentar interromper a sequência das interrupções na distribuição de energia.

“Estamos com equipes técnicas direcionadas para fazer um estudo minucioso sobre os últimos acontecimentos que afetaram o sistema, para, então, acabarmos de vez com essas quedas de energia”, disse Zimmermann. Uma coisa, no entender do diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, está claro: não há a possibilidade de sabotagens no sistema. “Não há a menor hipótese. O sistema de proteção falhou e causou a queda no fornecimento de luz”, assegurou.

Apesar das ressalvas, conclusões efetivas sobre as falhas só devem ser divulgadas na próxima semana. Na avaliação do comitê que monitora o setor elétrico, as ocorrências, que podem minar a confiança na capacidade do governo de manter a segurança do sistema elétrico, não estão relacionadas ao processo de antecipação, para o ano que vem, das renovações de concessões que vencem a partir de 2015. Por meio dessas operações, as contas de luz terão de ficar até 28% mais baratas para as empresas e 16% para as residências.

Na avaliação do professor Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a capacidade de geração de eletricidade no país é suficiente para atender a demanda dos brasileiros, mas há muita vulnerabilidade nas linhas que levam luz às regiões. “Precisamos de investimentos em transmissão e operação. Mas de nada adiantará a expansão das linhas se a manutenção e o planejamento continuarem falhos. Tenho medo que a redução das tarifas crie um problema para as distribuidoras manterem seus quadros técnicos”, concluiu. Para o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura(CBIE), Adriano Pires, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não cumpre adequadamente o seu papel como órgão regulador, e isso afeta todo o sistema. Por meio de nota, a Anel disse que realiza periodicamente fiscalizações.

Fonte: Correio Braziliense

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