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abr/2012

Apagão na segurança derruba a cúpula da PM

Omissão derruba Comandante da PM

Horas antes de ser demitido do comando da Policia Militar do DF, o coronel Sebastião Gouveia havia afastado três oficiais e seis praças, acusados de incentivar a operação tartaruga. Muito pouco diante da onda de crimes que tomou conta da capital da República desde que PMs começaram a fazer corpo mole como forma de exigir aumento de salário. Indefesos e perplexos, brasilienses assistem a escalada de violência. Em março, 88 assassinatos. Só no feriadão da Semana Santa, 11 mortos e 13 sequestros relâmpagos. Os números superam os do Entorno, uma das regiões mais violentas do país. Considerado linha-dura, o secretário adjunto de Segurança Pública, coronel Suamy Santana, foi escalado para substituir Gouveia.

Onda de violência e falta de pulso para lidar com a Operação Tartaruga fizeram com que o coronel Sebastião Gouveia perdesse o cargo. Nove PMs serão investigados pela Corregedoria por suspeita de incentivar o atraso no atendimento de ocorrências

A onda de violência que tomou conta da capital federal derrubou o comandante-geral da Polícia Militar. Insatisfeito com a postura do coronel Sebastião Gouveia no cargo, o governador Agnelo Queiroz (PT) decidiu exonerá-lo. A cúpula do governo avalia que faltou pulso do comando da PM para conter o aumento da criminalidade. Quem assume o posto é o secretário adjunto de Segurança Pública, o coronel Suamy Santana, considerado linha-dura (leia perfil). Horas antes de ser demitido, Gouveia havia afastado três oficiais e seis praças. Eles são acusados de criticar o GDF com mensagens publicadas em redes sociais, além de incentivar a Operação Tartaruga, que retarda o atendimento de ocorrências.

Porém, a resposta de Gouveia se mostrou tardia. A demora em tomar uma atitude mais enérgica para conter a rebeldia dos subordinados irritou o núcleo do governo. A mudança na liderança da PM foi considerada inevitável, o que obrigou o Executivo local a medir o custo político da iniciativa. Gouveia é uma indicação do presidente da Câmara, Patrício (PT). A saída dele terá, assim, repercussões na política (leia mais na página 24).

O protesto dos policiais, que dura 55 dias, fez os índices de criminalidade dispararem. Março, por exemplo, registrou mais homicídios do que o Entorno, considerado uma das regiões mais perigosas do país. No feriado da Semana Santa, 11 pessoas foram assassinadas na capital do país. (leia mais na página 23).

Mesmo sem citar o nome de Gouveia, o secretário de Segurança Pública, Sandro Avelar, deixou claro o seu descontentamento com o trabalho do oficial. “Esperamos que haja uma unificação nas determinações do comando. Se ele (comandante) determina que todos os chefes de batalhões trabalhem no sentido de intensificar o patrulhamento ostensivo, isso tem de ocorrer. É isso que esperamos do novo comandante”, afirmou. Avelar disse ainda que vai cobrar resultados de Suamy. “Queremos restabelecer a tranquilidade no DF e, para isso, precisamos de uma polícia presente, inibindo o cometimento de crimes”, concluiu.

Socorro demorado
Dos nove policiais afastados e investigados pela Corregedoria da PM, três são oficiais. Um deles é o comandante do 13º Batalhão (Sobradinho), Ropper Kenedy. Ele é suspeito de criticar a instituição e o GDF na internet. Antes de ser demitido, Gouveia afirmou ao Correio que Ropper seria substituído hoje. A PM não confirmou se o novo comandante manterá a decisão. O tenente-coronel Marcus Paulo Koboldt e o major André de Lauro Rigueira, que trabalham na formação de policiais, também são acusados de incitarem a Operação Tartaruga.

Seis praças também podem ser punidos por atrasarem de propósito o atendimento à população. O sargento Cristino, integrante do 3º Batalhão (Asa Norte), teria levado mais de uma hora para chegar à 413 Norte, na noite da última sexta-feira. Na ocasião, um assaltante baleou e matou o servidor do Banco Central Saulo Batista Jansen, 31 anos, em um restaurante.

O Departamento de Tecnologia da PM, por meio de um sistema de rastreamento, constatou que a viatura comandada pelo sargento não levaria mais do que cinco minutos para se deslocar até o local do latrocínio. Ele e os outros dois soldados que o acompanhavam podem ser expulsos, caso fique comprovada a má-fé.

O governador Agnelo Queiroz criticou a forma de protesto dos policias. “Nós respeitamos as reivindicações, mas temos que ser rigorosos quando elas colocam em risco a vida das pessoas. Não vamos tolerar que uma minoria desmoralize uma instituição tão respeitada como a PM do DF”, disse o chefe do Executivo local.

O corregedor da PM, coronel Francisco Carlos da Silva Niño, afirmou ainda ser prematuro dizer que a equipe de policiais se negou a prestar o atendimento na 413 Norte. “Estamos fazendo uma investigação minuciosa para saber se houve dolo no atendimento da ocorrência de latrocínio (na Asa Norte). Pedimos informações ao Ciade (Central Integrada de Atendimento e Despacho) para saber que horas ocorreu a solicitação, em que momento o despachante determinou o deslocamento da viatura e se houve motivo justificável para o retardo. Não podemos acusar ou defender alguém de forma passional.”

Colaborou Roberta Abreu

Perfis

30 anos de PM

O coronel Suamy Santana da Silva, 50 anos, está na Polícia Militar há 30 anos. Ele é casado e pai de cinco filhos. Bacharel em direito e pós-graduado em administração pública, é considerado um policial do estilo linha-dura. Entre as dezenas de cargos que ocupou, o oficial comandou a Academia de Polícia Militar do DF e exerceu a chefia do Estado Maior da corporação, além de atuar como subcomandante-geral. Antes de assumir o posto mais alto da instituição, era secretário adjunto de Segurança Pública do Distrito Federal. Desde 1997, trabalha em atividades de docência em polícia comunitária e em direitos humanos nas academias e nos centros de formação de policiais militares, civis e federais.

Três meses no cargo

O coronel Sebastião Gouveia, 53 anos, completaria hoje três meses à frente do cargo de comandante-geral da PM. Na posse, anunciou o incremento de operações para prevenir os assassinatos e os sequestros relâmpagos. A presença da polícia nas ruas foi outra promessa de Gouveia, que garantiu a cobertura das duplas de policiais a pé. O oficial ainda disse que pediria ao governador a contratação de mais 1,5 mil policiais. Gouveia, no entanto, conseguiu cumprir pouco do que prometeu. Um mês após assumir o posto, praças e oficiais deram início à Operação Tartaruga. Gouveia não teve habilidade para controlar a rebeldia dos subordinados e a criminalidade aumentou em larga escala. Com quase 30 anos de corporação, deve se aposentar.

Saulo Araújo e Lilian Tahan – Correio Braziliense

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