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set/2012

As lições que ficaram

Por *Pedro Delarue

Pedro Delarue - presidente do FONACATE

Foi uma duríssima queda de braço, na qual não houve vencedores. De um lado, o Palácio do Planalto entoando o mantra da crise internacional para glosar legítimas reivindicações de várias categorias do funcionalismo. Do outro, 22 carreiras típicas de Estado reunidas na inédita UCE (União das Carreiras de Estado), provando por A + B que o governo podia avançar bem mais na proposta de reajuste de 15,8%, divididos em três anos.

No meio, a opinião pública, bombardeada pela ideia equivocada de que não existe tamanha especialização no serviço público que justifique bons vencimentos. Como forma de endossar essa falta de teoria, editoriais acusando o funcionalismo de ser um ente insaciável, descompromissado com o bem-estar social e preocupado somente com o próprio umbigo.

Os servidores públicos, sobretudo os que formam carreiras de Estado, sofreram brutais acusações. A maior e mais terrível: a de que tal movimento reivindicatório visava somente melhoria salarial. Grossa inverdade. Nas pautas de todas as categorias havia pedidos – e, em alguns casos, apelos – de recomposição do quadro funcional, reestruturações e investimentos na máquina pública.

Vejam a contradição: o gestor público diminui o papel daqueles que atuam a seu favor. Um absurdo o governo atentar contra o próprio governo ao enfraquecer seus quadros mais importantes. São esses servidores de alta qualificação os responsáveis por funções nevrálgicas no Estado.

A onda que se ergueu em julho e agosto não foi efeito do acaso. Traduziu o cansaço com o criativo blablabla que se vinha ouvindo desde o ano passado, quando as negociações começaram. Significou também a reação à intransigência de setores do governo em ouvir o que o funcionalismo tinha a propor. Foram temporadas de conversas inúteis no Ministério do Planejamento.

Lições ficaram desse embate. A maior delas: a recusa do governo em negociar seriamente provoca apenas irritação. Outra: é necessário que o governo assuma suas obrigações com o serviço público. Também é inadmissível que incite a opinião pública e menospreze e desvalorize seu maior patrimônio.

E mais um registro, não menos importante: as carreiras de Estado não aceitam serem esmagadas, nem tratadas de forma nada condizente com a importância que têm.

*Pedro Delarue é auditor-fiscal, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco Nacional), presidente do Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas de Estado (Fonacate) e coordenador da União das Carreiras Típicas de Estado (UCE).

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