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abr/2012

Crack e pobreza alimentam crime em Maceió, capital do homicídio no Brasil

Maioria das vítimas dos assassinatos é jovem e pobre.

Uma mistura de miséria e crack transformou Maceió na capital dos homicídios no Brasil, onde os que matam e morrem são, na maioria, jovens pobres, invisíveis para os turistas que lotam as praias paradisíacas da cidade.

A violência passa ao largo da orla, dominada por hotéis de luxo. Dario Cavalcante, secretário de segurança pública de Alagoas, confirma que os casos atingem mais os pobres.

— A violência que provoca homicídios está restrita aos cinturões de miséria.

Severino López, um vendedor de doces de 59 anos, contou que em sete anos, perdu cinco filhos.

— Foram mortos por amigos. Compraram droga, não pagaram as dívidas e morreram. O mais jovem tinha 18 anos e o mais velho, 23.

Em 31 de dezembro, um dos filhos de Claide Maria Souza também foi morto. Era viciado em crack, subproduto da cocaína, e foi surpreendido roubando um mercado em Vila Brejal.

— Um vigia o surpreendeu e o matou a pauladas. Esteve três dias no hospital. Quem matou o meu filho morreu. Não foi por vingança minha. Tinha muitos inimigos.

As “dívidas do crack”, que levam um viciado a perder a vida por menos de três dólares nas mãos de um traficante, são o combustível da violência que transformou Maceió na cidade do Brasil com a maior taxa de homicídios com relação à sua população: 109,9 por 100 mil habitantes em 2010.

Maceió tem 1,1 milhão de habitantes. Julio Jacobo Waiselfisz, autor do Mapa da Violência 2012, elaborado pelo Instituto Sangari a partir do registro oficial de mortos, diz que houve um grande aumento das mortes

— De 360 homicídios por ano, em 2000, passou a 1.025 em 2010, um crescimento de 184,7%.

O índice de homicídios em todo o Brasil é de 26,2 por 100.000 habitantes.

Em Maceió, a violência se concentra em 15 favelas populosas, várias insalubres, onde vítimas e carrascos são igualmente pobres. Aqui, lembram seus moradores, a vida se passava nas ruas antes de o crack aparecer, há menos de uma década.

Maria da Graça Souza, diretora de um centro infantil aonde chegam filhos de pais consumidores, fala sobre a rotina dessas crianças.

— Diferente do que o Estado diz, as crianças não vão às ruas consumir a droga. Eles estavam na rua e lá chegou o crack. E para que consomem? Para sentir prazer.

Diferente das favelas do Rio, os traficantes de Maceió não exercem domínio territorial, nem vivem com luxo evidente. Cavalcante ilustrouo a situação.

— Aqui se mata ou se morre por apenas R$ 10. O crime não é uma fonte de riqueza. Traficantes e consumidores se matam entre si. Quem mata hoje, morre amanhã.

Em Alagoas, mais de 50% da população sobrevivem abaixo da linha da pobreza e 25% são analfabetas, segundo a fonte. Depois do Maranhão e do Piauí, é o estado com piores índices sociais do Brasil, a sexta economia do mundo.

Ainda que as razões para explicar a violência em Maceió sejam muito variadas, há um argumento compartilhado: o crack avivou a fogueira do crime.

A droga, que em geral entra pela Bolívia e pelo Peru, está por trás dos relatos de morte nas favelas e é a justificação para a repressão policial, não isenta de abusos ou corrupção, que só no mês passado custaram o cargo de quatro policiais.

Em uma incursão noturna à Virgem dos Pobres, o tenente Washington — não quis dar seu sobrenome — ordena, revista e muito poucas vezes sorri. Sempre à frente de seus homens, sua missão é interceptar os traficantes e registrar os dependentes para que recebam ajuda médica.

— Se um usuário não paga uma dívida com um traficante, morre. Matam para dar lição aos outros. Oitenta por cento dos homicídios estão ligados ao crack.

Jovens de chinelos e bermudas agem por reflexo quando veem os policiais. Põem as mãos na cabeça, baixam o olhar e esperam, resignados, que os revistem com grosseria.

Ruth Vasconcelos, da Universidade Federal de Alagoas, autora de vários estudos sobre a violência neste Estado, lamenta a situação.

— É lamentável que algumas destas favelas estejam conhecendo o Estado através da polícia. Não conheceram o Estado prevenindo, educando, dando saúde.

Fonte: R7

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