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ago/2012

Drogas: Cresce o vício em maconha em todo o país

Segundo pesquisa, 3,4 milhões de pessoas fumaram o entorpecente no Brasil em 2011. Desse total, 37%, ou cerca de 1,3 milhão, ficaram dependentes.

Segundo pesquisa, das pessoas que consumiram a substância em 2011, 37% se tornaram dependentes. Destes usuários, 470 mil eram adolescentes. Médico responsável se preocupa com impacto na rede pública de saúde

No último ano, 3,4 milhões de adultos e adolescentes usaram maconha no Brasil. Destes, 1,5 milhão consumiram a substância ilícita diariamente e 1,3 milhão — ou 37% de quem fez uso frequente — foram identificadas como dependentes. Os dados integram o II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), realizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e Outras Drogas (Inpad), vinculado a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A pesquisa questionou o padrão de uso da maconha para 4.607 indivíduos de 14 anos ou mais, em 149 municípios brasileiros. O Brasil encontra-se em 17º lugar em relação a outras nações. O Canadá teve o registro de maior consumo em 2011, com 14% da população, contra 3% de brasileiros. Para o diretor do Inpad, médico com PhD em psiquiatria Ronaldo Laranjeira, a pesquisa trouxe resultados inesperados. “Não imaginava uma taxa de dependência tão alta, os dados nos surpreenderam”, afirmou.

O alto nível de dependência, especialmente entre adolescentes, pode, inclusive, impactar a rede pública de saúde, aposta Laranjeira. “Nos Estados Unidos, onde o uso é seis vezes maior do que no Brasil, a principal busca de tratamento para a dependência química é a da maconha. Aqui, existe uma demanda reprimida”, diz. Segundo o Lenad, mais de 60% dos usuários de maconha experimentaram a droga pela primeira vez antes dos 18 anos. Cerca de 600 mil adolescentes já usaram o entorpecente pelo menos uma vez na vida e um em cada 10 usuários jovens é dependente. Ainda de acordo com o estudo, a comparação entre dados de 2006 e 2012 revela que cresceu o número de usuários adolescentes, em relação a proporção de adultos: em 2006, era um adolescente para cada adulto, índice que subiu para 1,4 em 2012. Apesar do grande número de usuários, a pesquisa revelou que 75% da população não concorda com a legalização da maconha.

Um dos autores do livro Maconha, Cérebro e Saúde, o neurocientista Renato Malcher-Lopes rebateu os resultados da pesquisa, indicando que a dependência fisiológica para a maconha não é reconhecida em estudos. “A maconha não provoca dependência física. Fatores comportamentais não deveriam ser considerados para avaliar a dependência, já que esses mesmos fatores poderiam ser vinculados a qualquer prática que provoque a sensação de prazer”, argumenta. No levantamento da Unifesp, foram considerados “aspectos comportamentais comuns da dependência”: ansiedade e preocupação por não ter a droga e com o próprio uso, sensação de perda de controle sobre o consumo, ter tentado parar, achar difícil ficar sem a droga. Segundo Laranjeira, os dados comportamentais são equivalentes às medidas fisiológicas. “Em estudos populacionais, não é possível fazer um estudo fisiológico. Assim, criam-se formas indiretas de se medir as alterações fisiológicas”.

Efeitos

Apesar de Malcher-Lopes afirmar que a maconha não causa dependência, ele ressalta que o uso em pessoas com idade inferior aos 18 anos pode ser muito prejudicial, já que o cérebro ainda está em formação. “Não existe nenhum estudo que indique efeitos catastróficos, mas é desaconselhável o consumo na adolescência, pelo risco da formação de depressão ou ansiedade. Ainda segundo Malcher-Lopes, o uso contínuo excessivo da substância também pode induzir à perda da libido e inibir a concentração geral.

Fonte: Correio Braziliense

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