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out/2012

E a polícia continua em greve. Já são dois meses

Agentes mantêm paralisação pelo menos até a  próxima semana . Sindicato reforça a orientação de registrar apenas  crimes graves, mas diretor-geral da corporação diz que todos serão  investigados

A greve da Polícia Civil do Distrito  Federal continua e chega hoje a 57 dias. Ontem, a categoria decidiu,  por unanimidade, estender o movimento por mais uma semana a partir das  18h de amanhã, quando terminaria o último prazo determinado. Segundo o  Sindicato dos Policiais Civis do DF (Sinpol), pelo menos 2 mil agentes  participaram da assembleia, realizada em frente ao Palácio do Buriti.

Enquanto  a polícia continua de braços cruzados, a população sofre com as  consequências e não consegue o atendimento básico nas delegacias, com o  registro de crimes leves como furto, lesão corporal, injúria, difamação,  entre outros. Apenas os delitos mais graves se tornam ocorrências e são  investigados, entre eles, o sequestro relâmpago, o estupro e o  homicídio. “O nosso movimento prioriza, em especial, o bem jurídico  maior, que é a vida. Qualquer dificuldade que a população tiver em  relação a isso, pode procurar a delegacia mais próxima que terá  atendimento”, afirmou o presidente do Sinpol, Ciro de Freitas.

O  movimento ganhou força e um grupo maior de policiais participou da  reunião de ontem. Sobre o trio elétrico, a orientação do sindicato é  para que os agentes continuem mantendo a postura adotada durante todo o  movimento, de não registrar as ocorrências de crimes com menor potencial  ofensivo. Os agentes voltam a se reunir na próxima quarta-feira, no  mesmo local, para definir os rumos da greve.

Apesar da opção da  categoria por continuar a paralisação, o diretor-geral da Polícia Civil,  Jorge Xavier, garantiu que, a partir de hoje, todos os delitos serão  registrados. “Os delegados-chefes têm essa orientação, independentemente  da natureza da ocorrência”, garantiu. E ameaçou: “Para os fatos que não  forem registrados, providências serão tomadas”.

Reunião
Antes  do encontro que determinou a manutenção do movimento, representantes do  sindicato e do governo estiveram reunidos a portas fechadas no Buriti.  Segundo o presidente do Sinpol, o secretário de Administração Pública,  Wilmar Lacerda, explanou “pontos de relevância” sobre avanços nas  negociações. No entanto, Freitas reclama que a principal reivindicação  (veja quadro), que trata da reestruturação da carreira, não foi  discutida. “Ele deu uma perspectiva de o plano de saúde ser implementado  a partir de janeiro do próximo ano e falou sobre a questão da  renomeação e transformação nos cargos de agentes penitenciários, mas, na  questão salarial, que é o que causa uma ansiedade na categoria, deixou  muitas brechas”, reclamou.

Wilmar Lacerda preferiu não se  manifestar sobre a reunião ou a continuidade da greve. A assessoria de  imprensa da Secretaria de Administração Pública, no entanto, afirmou que  foi apresentada à categoria a proposta de implementar o plano de saúde,  em janeiro, e que a minuta de renomeação dos agentes penitenciários já  foi redigida e está em processo inicial. Outro ponto pleiteado, o  aumento do efetivo, já foi autorizado pela presidente Dilma Rousseff e  haverá concurso público em 2013 para a adesão de cerca de 3 mil agentes.  A reestruturação de carreira não foi discutida.

Justiça
O  movimento, segundo o presidente do Sinpol, é o mais longo da história da  categoria. “Tudo isso por culpa do governo, que não se dedicou como  deveria para acabar com a greve dos policiais”, afirmou Freitas. Embora a  paralisação não tenha previsão de desfecho, ainda não foi considerada  ilegal pela Justiça. No fim de agosto, o Conselho Especial do Tribunal  de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) tomou algumas medidas para  amenizar os transtornos à população. Foram determinados: a volta ao  trabalho de pelo menos 80% da categoria, que a população e servidores  não sejam impedidos de entrar nas unidades policiais e que o sindicato e  os servidores não promovam manifestações ou atos que fechem vias  públicas ou causem transtorno à livre circulação de veículos. Em cada  ordem descumprida, a multa é de R$ 100 mil. Segundo Freitas, todas as  determinações são cumpridas.

Processo e multa
No ano passado, a  greve da categoria durou 37 dias. Os policiais só retomaram as  atividades após o então diretor-geral da Polícia Civil do DF, Onofre  José de Moraes, determinar o fim do movimento e ameaçar cortar o ponto  dos grevistas, além de processar os faltosos nas esferas criminal e  administrativa, caso não reassumissem as funções, sob pena de até serem  exonerados do serviço público. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal  e Territórios (TJDFT) também havia determinado a retomada das  atividades, sob pena de multa diária de R$ 50 mil, a ser paga pelo  Sinpol.

2 mil
Número de policiais civis que participaram da assembleia ontem.

As exigências
Principais reivindicações da categoria:
» Reestruturação da carreira
» Implementação do plano de saúde
» Transformação do cargo de agente penitenciário

Fonte: Correio Braziliense

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