31

jan/2013

Gasolina a R$ 3,04 – Tá caro? Pode aumentar mais…

Os donos de postos de combustíveis não se intimidaram e reajustaram ontem em até 10% os preços das gasolina e do diesel, apesar de o governo garantir que o aumento nas bombas poderia ser de, no máximo, 4,4%. A remarcação foi disseminada por todo o país, independentemente de a maioria dos estabelecimento ter estoques adquiridos com as distribuidoras antes do anúncio da elevação, nas refinarias, de 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel. No Distrito Federal, em boa parte dos postos, o repasse aos consumidores foi integral, mesmo a gasolina tendo 20% de álcool, que não teve correção. Com isso, o litro passou dos R$ 3, causando indignação em quem precisou encher o tanque.

“É um absurdo o que os donos de postos estão fazendo. Eles têm estoques comprados a preços mais baixos, mas já mudaram as tabelas porque só pensam em aumentar as margens de lucro”, disse o militar Marcus Alves de Carvalho, 45 anos. No seu entender, o governo deveria agir com rigor para proteger os consumidores dos abusos cometidos pelos revendedores, uma vez que os combustíveis são essenciais no dia a dia das pessoas. O pior, segundo ele, é saber que não dá nem para trocar a gasolina pelo álcool, pois esse produto também está caro. O álcool só compensa se o valor nas bombas corresponder a, no máximo, 70% do gasolina. Atualmente, em pouquíssimas regiões do país isso acontece.

O reajuste dos combustíveis só não pesará mais no orçamento das famílias porque o governo antecipou a redução da conta de luz e o Banco Central está derrubando as cotações do dólar para baratear os produtos importados. Além disso, foram adiados os reajustes das passagens de ônibus e de metrô em São Paulo e no Rio de Janeiro. De qualquer forma, o impacto na inflação em fevereiro será de pelo menos 0,2 ponto percentual. “Estou desanimado. O governo dá com uma mão e tira com a outra”, afirmou o comerciante Celso de Oliveira, 32 anos, referindo à energia mais barata e ao aumento da gasolina e do diesel. “No fim das contas, vamos gastar mais”, destacou.

Que o diga o empresário Amarilson Cardoso, 44. Segundo ele, os gastos mensais para bancar a família são tão elevados que chega a desanimar. Sobre o reajuste dos combustíveis, ele é taxativo: “Abasteço a cada três dias. Gasto, no mínimo, R$ 60 por vez. Isso dá mais de R$ 600 por mês. Pode parecer pouco, mas o aumento do litro da gasolina de R$ 2,85 para R$ 3,04 vai pesar”, lamentou. Alexandre Menezes, gerente do Posto Sorriso, em Águas Claras, disse que não há muito o que fazer. “Todas as bombas tiveram os preços modificados assim que recebi a ordem do dono”, informou. E se novos aumentos vierem, os consumidores não terão a quem reclamar.

Fiscalização
Diante das informações de aumentos abusivos nos combustíveis, de até 10% em São Paulo, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que a Agência Nacional de Petróleo (ANP) fiscalizará os postos. “Embora o mercado seja livre, não aceitaremos nada que exceda o razoável”, disse. Em nota, José Carlos Ulhôa Fonseca, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Distrito Federal (Sindicombustíveis-DF), informou que a entidade não se posiciona sobre os valores cobrados pelo varejo. “O preço final será determinado pelo reajuste a ser repassado aos postos, com a entrega de novos estoques pelas distribuidoras.”

Segundo Telma Rodrigues, gerente de um posto da rede BR Petrobras, no Riacho Fundo, a ordem para o repasse integral do aumento da gasolina aos consumidores foi definida na noite de terça-feira, logo depois de o governo anunciar o reajuste nas refinarias. “Assim que cheguei ontem, soube que os preços mudariam”, assinalou. Ela não soube explicar, porém, o motivo pelo qual a correção foi de 6,6% e não de 4,4%, como previa o Ministério da Fazenda. “Apenas recebi ordens para alterar os preços”, disse.

Na avaliação do economista Heron do Carmo, professor da Universidade de São Paulo (USP), o aumento dos combustíveis era mais do que esperado. “Apesar de atrasado, o reajuste é positivo, pois resolve uma distorção antiga de preços, com efeitos benéficos não apenas para a Petrobras, mas também para as finanças das unidades da Federação”, comentou. Para ele, os consumidores devem se acostumar, pois o petróleo está muito caro lá fora. “Não há como a Petrobras ficar acumulando prejuízos ao subsidiar os preços no país, pois precisa fazer investimentos para ampliar a produção e garantir a oferta de combustíveis”, disse. Pelas contas do ministro da Fazenda, Guido Mantega, desde 2006, a gasolina subiu apenas 6% nas bombas, já que o governo reduziu impostos em todas as vezes em que houve reajuste nas refinarias.

Para o corretor de imóveis Paulo Vargas, 28, não há como fugir dos preços altos da gasolina. Ele afirmou que, antes da remarcação, gastava R$ 150 por semana para abastecer o carro. “Vou ter que fazer as contas e ajustar meu orçamento. Tenho que trabalhar de carro. Não tem jeito”, ressaltou. A servidora Elizabete Borges, 51, já tem, na ponta do lápis, quanto desembolsará a mais. “Em vez de R$ 180, agora gastarei R$ 200 por semana”, disse “Está caro demais. E não temos para onde correr, pois todos os postos de Brasília têm o mesmo preço, é um cartel. Aí fica complicado”, emendou.

O aposentado Edmilson Alves dos Santos, 67, admitiu que levou um susto ao conferir as bombas do posto no qual abastece. “Quando olhei os preços, fiquei abismado. Achei caríssimo. Mas acabei abastecendo o carro porque precisava ir ao médico”, afirmou. “Ainda bem que não saio muito. Gasto R$ 100 por semana com gasolina. De qualquer forma, acho um absurdo”, destacou.

Ações caem 5%

Os investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) reagiram mal ao anúncio do aumento dos combustíveis nas refinarias, pois esperavam mais, de 7% a 10%. As ações da Petrobras despencaram quase 5% no pregão de ontem. Para Emerson Leite, analista do Credit Suisse, o reajuste da gasolina (6,6%) e do diesel (5,4%) não aponta uma direção clara para o caixa da estatal. “Aumentos individuais não mudam a avaliação de cautela, porque não resolvem a disparidade. A política de preço continua fora dos parâmetros de mercado”, observou.

Longe da recuperação

A correção dos preços dos combustíveis nas refinarias deve engordar o caixa da Petrobras entre R$ 6,9 bilhões e R$ 7,8 bilhões ao longo deste ano. Mas tal reforço não será suficiente para reverter as perdas acumuladas por causa da defasagem dos valores em relação ao mercado internacional. Em 2012, os prejuízos foram R$ 25,1 bilhões, quantia considerada irrecuperável. “A decisão do reajuste parece ter partido do princípio de que é melhor pouco do que nada”, frisou a analista da Concórdia Corretora, Karina Freitas.

Fonte: http://clippingmp.planejamento.gov.br

COMPARTILHAR