22

mar/2012

Mais-Valia: “Engenheiro” ou “Pedreiro”?

Por *Amaro Martins

A preocupação dos Policiais Rodoviários Federais nesta campanha salarial por melhores condições de trabalho não se singulariza em uma preocupação, pois se mostra multifaceta em outras preocupações. Permitam-me, mas é com olhar aquilino que percebo isso!

Temos um governo desatencioso para com os servidores públicos, renitente tanto em recebê-los para negociar quanto para debater problemas institucionais da categoria.

Vivemos em um período de ápice do Capitalismo, mas, agora, não é o particular que explora o operário, e sim o Governo a explorar o servidor, aquele que tem obrigação de obedecer aos princípios constitucionais, simplesmente porque há um Estado Democrático de Direito.

Entretanto, o Policial Rodoviário Federal desempenha atribuições de “engenheiro” e recebe, em contrapartida, o salário de “pedreiro”. O jogo figurativo de linguagem, artifício necessário nesta hora, é tão somente para explicar que as atribuições de um PRF são ricas  em complexidade, haja vista ser ele a lidar com a Constituição Federal, com os Códigos Penal e Civil, com a Lei de Crimes Ambientais, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Código de Trânsito Brasileiro e suas Resoluções, entre outras legislações.

Ora, não é por outro motivo que se exige o 3º grau para ocupar o cargo de PRF, pois diante da complexidade apresentada é aceitável que se requeira mais qualificação, mais conhecimento e mais capacidade de desembaraço em suas atribuições.

No século XIX, quando se combatia o Capitalismo, principalmente por Karl Marx, surgiu o termo “mais-valia”, que era uma realização de uma intensa exploração dos proletariados pelos capitalistas, em que a remuneração de um operário representava uma restrita parcela do resultado do trabalho.

Naquela época, a noção principal do Capitalismo estava no íntimo da burguesia que emergiu na Europa ao final da Idade Média, não bastava acumular capital; era necessário, também, obter lucro por meio da mão de obra.

Por conseguinte, essa mais-valia consistia na diferença entre o valor criado pela utilização da força de trabalho e o valor dessa força de trabalho.

Agora, é o Governo que pratica essa exploração. Esse “lucro” buscado pelo Governo é desumano, pois as mercadorias aumentam de preço e igualmente os impostos, as taxas, o acesso aos bens de consumo, enquanto nossos salários estão congelados.

Então, estamos vivendo um NEOCAPITALISMO!?

Indubitavelmente, é bom para o patrão (GOVERNO) pagar ao “engenheiro” o salário de “pedreiro”.

Não somos o “engenheiro”, muito menos o “pedreiro”, somos POLICIAIS RODOVIÁRIOS FEDERAIS (com todas as nobrezas e complexidades do cargo), assim, queremos, APENAS, o mesmo reconhecimento do pai (Governo) que fora dado aos outros filhos (Instituições). Muitas instituições/categorias foram contempladas no final do governo anterior, mas como disse o então Secretário de Relações de Trabalho do MPOG, Sr. Duvanier Paiva, já falecido, “a PRF não recebeu o tratamento adequado em 2006 e em 2008”. Dessa forma, entendi, não poderia ser de outra maneira, teríamos esse tratamento adequado no ano passado, que MAIS UMA VEZ não ocorreu.

No momento, diante da posição governamental, só nos resta o recrudescimento das nossas ações em busca do que desejamos.

Resta-nos indagar e saber sobre o que somos e o que queremos!

Enfim, minhas palavras tornam-se frustradas diante de tantos descasos com uma Instituição tão nobre e valente; dessarte, esta frase de Karl Marx traduz a minha ânsia de dizer mais sobre a síntese do que estamos vivenciando:

“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.

 *Amaro Martins é policial rodoviário federal, filiado ao SINPRF-BA

Fonte: SINPRF-BA

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