08

abr/2012

Militares preparam operação no Pará

General José Carlos de Nardio - Chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas

Apesar dos robustos investimentos do governo federal nos últimos anos na segurança das regiões fronteiriças contra o tráfico de ilícitos, sobretudo da região amazônica, o Tribunal de Contas da União (TCU), órgão regulador dos gastos públicos, considerou ineficiente as estratégias até hoje traçadas. Segundo a última auditoria do TCU, divulgada no último mês, há somente um agente federal a cada 16 quilômetros e um delegado a cada 100. Além disso, o órgão critica o pouco contato dos policiais federais com os militares, que têm poder de polícia nas faixas fronteiriças. As ponderações não foram bem recebidas na alta cúpula das Forças Armadas, que também coordenam as ações de combate ao tráfico nas fronteiras. Em entrevista exclusiva ao repórter Rafael Querrer, de O LIBERAL, o chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, general José Carlos De Nardi, rechaçou as acusações e anunciou novos investimentos para a proteção militar das regiões vizinhas aos estados amazônicos. Ele adiantou que o Pará receberá a próxima operação militar de combate ao tráfico, que envolverá mais de 6 mil homens. O general ainda tocou no espinhoso tema da instalação da base da segunda esquadra da Marinha para a proteção da Foz do Amazonas, fruto de disputa entre o Pará e o Maranhão. “Provavelmente, ela (Marinha) vai colocar a segunda esquadra um pouco mais abaixo (São Luís). Mas isso a Marinha ainda não escolheu”, disse. Confira a entrevista:

? O Plano Estratégico de Defesa foi lançado há 10 meses pela presidente Dilma Rousseff para tentar conter o tráfico de ilícitos, nas regiões de fronteira. Como tem funcionado o Plano?

??O Plano diz respeito a operações de defesa contra o ilícito. Então, não é para defender as nossas fronteiras contra exércitos militares de outros países, mas sim contra crimes cometidos na fronteira. Para a efetividade das operações, nós recebemos o apoio de vários ministérios, principalmente do Ministério da Justiça. As duas principais operações são a Sentinela e a Ágata. Na primeira, a Polícia Federal atua em caráter permanente, com foco em ações de inteligência, para combater o tráfico. Agora (depois do lançamento do Plano), também terá o apoio do Ministério da Defesa, que trabalhará em ações logísticas, e será potencializada por acordos selados entre países vizinhos. A outra operação é a Ágata, que diferente da Sentinela, tem natureza episódica. Sua finalidade será o aumento da presença e do impacto das forças envolvidas em pontos específicos da fronteira. Quem irá tomar a frente dessa operação é o Ministério da Defesa, com o Ministério da Justiça. Então, a primeira é Justiça com o Ministério da Defesa e a segunda, Ministério da Defesa com o Ministério da Justiça e outros ministérios. Aí entram até outras entidades e organizações, como a Funai.

? Como são planejadas as Operações e qual o resultado até agora?

??O Centro de Operações Conjuntas (COC) é o meu centro de operações. É de lá que comandamos todas as ações. Agora, é a área da inteligência que vai nos dizer quais os locais em que devemos colocar a maioria da tropa. Isso é feito com o apoio da Abin e da inteligência da área amazônica. Eles começam a trabalhar e nos dão essa informação, para que possamos planejar tudo, inclusive o deslocamento de civis, para protegê-los, durante a operação. Uma das estratégias é a seguinte: nós temos a Sentinela, instalada, certo? Depois, a Ágata vem, pontualmente, e aumenta o contingente, na área, apreendemos bastante coisa e depois a Ágata vai embora. Os criminosos pensam que a operação acabou e recomeçam o tráfico, só que os policiais federais ainda estão na área, com a Sentinela, e fazem as apreensões. Ao longo dessas operações, até agora, foram apreendidos dez veículos leves, 27 motos, cinco ônibus e caminhões, um deles com cerca de dez toneladas de explosivos, e oito embarcações. A lista de material capturado inclui R$ 467.871,00 mil, 17,8 quilos de pasta base de cocaína, mais de 600 quilos de maconha e 34 armas.

? Apesar do senhor apresentar esses resultados, o TCU apontou, no último mês, uma radiografia das deficiências, sobretudo na região amazônica, na segurança das fronteiras. O documento denunciou que, ao longo das faixas de fronteiras, havia apenas um agente a cada 16 quilômetros, e um delegado a cada cem. O órgão também anunciou que 72,3% do contingente, na área, consideram não haver articulação com as Forças Armadas. Como o senhor avalia o resultado dessa auditoria?

??Não vou comentar porque a auditoria do TCU não tem nada a ver com o Ministério da Defesa, em termos de Ágata. Isso aí tem a ver com o Ministério da Justiça. São agentes da Polícia Federal. O apoio do Ágata é pontual, não permanente, por isso os soldados não estão lá, como os policiais, a todo o momento.

? No mesmo dia, o senhor anunciou que as três forças iriam incrementar a segurança, na área. Essa atitude já foi uma resposta à denúncia do TCU?

??Eu vi a denúncia do TCU e as matérias que saíram, posteriormente, mas, o TCU não tem nada a ver com o Ministério da Defesa, em termos de Ágata. Os jornalistas fizeram uma confusão, não entenderam o que foi anunciado. Pegaram uma informação de denúncia e a misturaram com outro Plano apresentado, o Plano de Articulação e Equipamento da Defesa (PAED). Tudo o que as forças imaginaram para defender militarmente o país que é a 6ª maior economia do mundo está nesse PAED. Haverá uma grande quantidade de tropas designadas para defender o país, militarmente, agora sim, contra outras ameaças, além dos ilícitos. Então, teremos o SISFROM, um sistema que funcionará com um satélite que será lançado pelo Brasil, um satélite geoestacionário. Ele fará o monitoramento das fronteiras. Essa é uma atividade do Exército. Criaremos um sistema de proteção para a área política do País, na região Centro-oeste, com um sistema de proteção e monitoramento completo. Também potencializaremos a proteção da nossa costa e do Pré-Sal. Criaremos uma segunda esquadra para proteger a Foz do Rio Amazonas. Também protegeremos a parte econômica, o eixo Rio-São Paulo. Enfim, estabeleceremos um sistema de defesa do Brasil, intensificando a proteção de regiões específicas. Essa configuração está marcada para ser concluída até 2031, pelo menos é o que nós esperamos.

? Por falar nessa segunda esquadra da Marinha para a proteção da Foz do Amazonas, a decisão se será no Pará ou no Maranhão tem se prolongado há dois anos. Trata-se de um megaempreendimento que mobilizará investimentos superiores a R$ 30 bilhões. O Ministério da Defesa primeiro apontou o município de Chaves, no extremo norte do Marajó, ou a ilha da Tijioca, no município de Curuçá, como os locais ideais para a instalação da base. Quando se esperava bater o martelo sobre o local da instalação, surgiu essa proposta de instalá-la na Baia de São Marcos, em São Luís, completamente fora da Foz do Amazonas. Por que essa mudança?

??Eu acho que nessa questão a Marinha está pensando em algo maior, que é defender a Foz do Rio Amazonas, que é lá, na Ilha do Marajó. Então, provavelmente, ela vai colocar a segunda esquadra um pouco mais abaixo. Mas isso, a Marinha ainda não escolheu. Mas, eu acho que o Pará vai crescer muito mais do que os investimentos que essa base possa trazer. Todavia, eu assumo que os investimentos, na região que receber a obra, serão altos.

? O senhor, praticamente, confirmou a instalação da nova base da Marinha no Maranhão.

??Veja bem, ainda não está definido o local da esquadra. Hoje, nós só temos uma esquadra, que é no Rio de Janeiro, então todos os navios grandes da Marinha são baseados no rio. A Marinha quer deslocar alguns navios e outros que está comprando para uma base, com a intenção de proteger a Foz. Esquece o Maranhão, na verdade, não foi escolhido o lugar. Não tenho como te dizer se haverá essa mudança. Se houve alguma mudança, não foi de 25 de agosto de 2010 para cá. E se for, eu acho que isso é um problema essencialmente da Marinha, que é uma coisa que não tenho como discutir.

? O Pará está no centro de alguma operação prevista para este ano?

??Para maio, já estamos preparados para lançar a Ágata IV, que iniciará pelo Pará, concluindo o Plano, nas fronteiras a Oeste do País, abrangendo uma pequena parcela do Amazonas e indo até o Amapá. Então, vai haver uma operação militar conjunta, com todas as forças militares, coordenadas por mim. Do outro lado estarão Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Estão previstos 400 militares da Marinha, uma divisão do Exército, a 8ª RMDE e mais quatro brigadas, perfazendo 4.800 homens do Exército. E teremos entre helicópteros, aviões de caça e aviões de transporte, 25 aeronaves, perfazendo um total de 440 militares da força aérea. Isso dá um total de quase 6.000 mil homens.

? Essa preocupação é porque o estado pode ser considerado estratégico nas rotas de tráfico de drogas e de ilícitos?

??O tráfico de drogas e de outros ilícitos corta o Estado devido à alta quantidade de rios, que facilitam o transporte para fora e para dentro do país. Na Amazônia são poucas estradas, tudo corre pelos rios. Tem uma região da Amazônia, perto da Venezuela, perto de Boa Vista, que é uma região muito seca, não tem rio, mas aonde tem rio, as drogas correm por ele. E por isso é que a Marinha irá colocar oito navios. A gente trabalha muito com o Ministério da Justiça. Ágata e Sentinela têm trabalhado juntas para conter o tráfico, nos rios. O problema está sendo tratado, mas ninguém acaba com o tráfico de ilícitos assim. Nós vamos dificultar, até que o problema acabe.

Fonte: O Liberal

COMPARTILHAR