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out/2012

Mobilizaçaõ e negociação: Opinião do Presidente do SINPRF/RS

Por *Francisco Dalla Valle Von Kossel

Francisco Dalla Valle Von Kossel

Hoje acredito que temos uma melhor ideia do trabalho que foi garantir a sobrevivência da Polícia Rodoviária Federal na constituinte de 1988, coletando milhares de assinaturas para incluir a PRF no art. 144 da CF.

Naquela época não havia direito à sindicalização, éramos subordinados ao DNER, não contávamos com um regime jurídico que garantisse estabilidade (éramos celetistas) e vivíamos num regime de exceção, mas mesmo assim nossos colegas mais antigos mudaram o rumo da história e hoje estamos aqui avaliando nossa primeira greve geral em 84 anos de história da PRF.

O momento é de amadurecimento, análise crítica e principalmente construtiva. Iniciamos a greve após diversos alertas ao Ministro da Justiça de que a pressão na base já era insuportável. Mostramos ao Brasil do que somos capazes: chamamos a atenção de toda a sociedade, nos mobilizamos, realizamos operações com grandes repercussões, passeatas com carro de som e faixas, chamamos a atenção da mídia e reavivamos a greve no funcionalismo público federal que já estava numa descendente. Aprendemos a fazer greve do dia para a noite e contra um governo que surgiu em 1980 justamente do movimento sindical.

Aqui no Rio Grande do Sul tivemos a Assembleia com o maior participação de todo o Brasil: mais de 150 aprovaram a greve por unanimidade. Nesta greve histórica todos tiveram a oportunidade de participar: chefes e subordinados, operacionais e administrativos, ativos e aposentados. Foi a hora de mostrar quem é quem, de que lado joga e também do que somos capazes.

Vi que muitos dos críticos contumazes não passam de comentaristas da vida alheia, vi que a maioria dos nossos chefes exerce esta função com liderança, por ideologia, com coragem e desprendimento. Vi também que unidos somos fortes e que não há limites para nossos sonhos. Fomos ameaçados de multas, processos disciplinares, corte de ponto e toda sorte de ameaças, mesmo assim não nos curvamos, demos o exemplo e fomos seguidos Brasil afora. Tenho convicção que tudo valeu a pena, assumo toda a responsabilidade por qualquer consequência que possa advir deste movimento, tenho convicção que agimos na estrita legalidade e faria tudo de novo.

Quanto ao acordo, o SINPRF/RS foi voto vencido nas regras da democracia, pois cada sindicato teve direito a um único voto para decidir sobre a proposta de acordo do governo federal, mas democracia é isto, venceu a maioria pelas atuais regras do estatuto de nossa Federação. Cabe lembrar que mesmo no Rio Grande do Sul não houve consenso sobre este assunto, pois para decidir qual seria nossa posição em Brasília realizamos votação com todos os representantes de postos, NOE, Sede, Comissão Estadual de Greve e Diretoria do SINPRF/RS.

As discussões em Brasília foram acaloradas, tanto antes como após a reunião com o Secretário das Relações de Trabalho do Ministério do Planejamento. O peso de representar uma categoria com a importância da PRF pesa nos ombros, o tempo passava rápido, a proposta do governo sempre foi aceitar tudo ou nada. A diferença de votos também sempre foi pequena. Houve muitas posições divergentes quanto ao cenário político, os ânimos exaltavam-se na medida em que o tempo passava e recebíamos notícias de que outras categorias fechavam acordo.

Ao todo mais de 90% das categorias em greve aceitaram a proposta do governo federal. Discutíamos qual seria nossa real capacidade de mobilização, quantos policiais realmente estariam dispostos a continuar uma greve? Por quanto tempo? Tínhamos ainda o peso da liminar do STJ que impedia as chamadas operações padrões. Afinal, quais nossas reais chances? Tínhamos de ser realistas, sem ilusões. Ao final o sim pela assinatura do acordo venceu o não por 13 sindicatos a 11. Posso falar que enquanto alguns sindicalistas oscilavam pelo sim e pelo não na votação em Brasília, eu tive a serenidade de manter-me firme no posicionamento pelo não, pois tenho a convicção que nosso Sindicato fez a sua parte: seguiu as orientações da Federação, realizamos assembleia, reuniões, estabelecemos um fluxo de informações com os associados, motivamos, ouvimos o efetivo e realmente fizemos greve quando era hora de fazer. Lutamos por uma PRF melhor!

Ao final de tudo, após encerrada a greve, ainda realizamos nova assembleia para avaliar o movimento como um todo, onde colhemos sugestões importantíssimas, tais como: necessidade de alterar a sistemática de votação da FenaPRF, para que os sindicatos tenham voto proporcional ao número de sindicalizados; a adequação dos estatutos dos sindicatos de todos os Estados, para possibilitar um sincronismo nas futuras ações; realização desde já de ações para esclarecer a sociedade sobre a importância de nosso trabalho; a proposição para que a FenaPRF crie um fundo para futuras mobilizações; exigir que a FenaPRF seja dura com os sindicatos que não participaram efetivamente das mobilizações; a criação de uma Comissão Permanente de Mobilização aqui no RS, para a qual já foram escolhidos os integrantes, entre outras medidas que serão levadas adiante.

Ao final posso dizer que também discordo de muitas coisas que ocorreram, mas também presenciei muita gente se entregar incondicionalmente ao movimento. Ninguém pode garantir a priori se o acordo foi uma escolha boa ou ruim, pois estamos falando do futuro. Quem estava certo o tempo irá dizer. Entretanto, a coleta de assinaturas de ontem e a greve de hoje reitera que a história é cíclica, que unidos somos fortes, que a Polícia Rodoviária Federal tem capacidade de se mobilizar em prol de seus objetivos e que o esforço de cada um que participou da greve fez toda a diferença no conjunto, mostrando ao Brasil o poder de mobilização do RS.

A luta tem que continuar, pois muito ainda temos para conquistar. Aos 80 novos policiais para que nosso Estado receberá nos próximos dias, do primeiro concurso com nível superior, desejo-lhes uma carreira repleta de realizações, que façam a diferença por eles, pela polícia e principalmente pela sociedade.

Bem-vindos à família dos policiais rodoviários federais.

*Francisco Dalla Valle Von Kossel é presidente do SINPRF/RS


Artigo publicado no informativo do SINPRF/RS Mão Dupla do mês de setembro de 2012

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