16

jan/2014

Vitaminas e a ilusão da saúde

Hoje em dia as vitaminas estão em todo lugar, na farmácia, supermercados, academias e etc. É fácil de comprar e traz uma sensação de bem-estar, de estar de bem com a vida. O fato é que somos fortemente manipulados pela mídia, financiada pela indústria farmacêutica, que transmite a imagem de que multivitamínicos fazem bem para a saúde. Mas será realmente verdade?

No final do ano passado, três estudos foram publicados na revista cientifica Annals of Internal Medicine, mostrando que não existe beneficio algum para uma pessoa saudável em tomar vitaminas ou minerais extras, seja prevenindo a ocorrência ou retardando o progresso de doenças crônicas. Pelo contrário, o efeito seria maléfico, principalmente para o seu bolso.

O primeiro estudo fez uma revisão sistemática de ensaios clínicos para medir a eficácia de suplementos multivitamínicos na prevenção do surgimento de doenças crônicas em adultos sem deficiências nutricionais. Foram 3 ensaios clínicos com multivitamínicos e outros 24 experimentos com vitaminas isoladas ou em duplas, utilizando mais de 400 mil participantes analisados de forma aleatória. Não foi encontrada qualquer evidência de efeito benéfico dos suplementos em qualquer tipo de mortalidade, doenças cardiovasculares ou câncer.

O segundo estudo avaliou o efeito de uma cápsula de multivitamínico diária como forma de prevenir o declínio cognitivo em 5.947 homens com 65 ou mais anos de idade, sem deficiências nutricionais. O estudo foi mantido por 12 anos. O efeito de multivitaminas foi comparável ao placebo em testes de cognição e memória verbal. A conclusão é simples, a adição de vitaminas em homens bem nutridos não traz vantagem alguma para perda cognitiva. O efeito foi semelhante ao encontrado em um outro trabalho recente, que avaliou o efeito isolado de vitaminas B, E, C e ômega-3 em pessoas com demência moderada. Nenhum suplemento melhorou a função cognitiva dos sujeitos da pesquisa.

O terceiro estudo teve como objetivo monitorar efeitos benéficos em potencial de 28 vitaminas em altas doses, em 1.708 homens e mulheres com histórico de enfarte do miocárdio. Depois de acompanhar os pacientes por cerca de 5 anos, os autores não encontraram efeito algum das vitaminas contra ataques recorrentes.

Esses estudos ecoam dados que vêm sendo registrados na literatura científica, sugerindo que vitaminas e suplementos minerais não têm efeitos benéficos quaisquer na prevenção de doenças crônicas. Alguns até sugerem um efeito contrário. Vale a pena mencionar outros trabalhos envolvendo dezenas de milhares de pessoas que foram acompanhadas aleatoriamente em ensaios clínicos ao consumir B-caroteno, vitamina E e altas doses de vitamina A, sugerindo um aumento na mortalidade nesses grupos.

Apesar do volume de dados científicos mostrando claramente que o uso de minerais e multivitamínicos não oferecem beneficio e até podem fazer mal, o consumo desse tipo de suplemento aumentou nos EUA, de 30% entre 1988 e 1994 para 39% entre 2003 e 2006, principalmente entre adultos bem-nutridos.

O aumento no consumo reflete um crescimento nas vendas. A indústria de suplementos continua se expandindo nos EUA, atingindo US$ 28 bilhões em vendas em 2010. Vendas essas que, muitas vezes, são consequências de medicinas alternativas ou pseudocientíficas, como a ortomolecular. Números semelhantes são registados no Reino Unido e diversos países europeus.

O acúmulo de evidências cientificas seria suficiente para sugerir que as pessoas evitem consumir esses suplementos uma vez que o uso não se justifica, na prevenção e tratamento de doenças crônicas ou déficit cognitivo. Vale lembrar que estamos falando de indivíduos saudáveis e o mesmo não se aplica em casos de má nutrição, deficiências metabólicas genéticas ou mesmo gravidez, onde o uso de complementos alimentares é indiscutível e altamente recomendável.

*Crédito: WBU / SCIENCE PHOTO LIBRARY

Fonte: G1

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