Catorze legendas pediram urgência para o projeto na Câmara. Mais 4 deputados abriram mão do privilégio. Apesar de o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), resistir à iniciativa — “Nem me pergunte sobre isso” —, o movimento ganha força. O partido dele, o PT, não aderiu. Mas PMDB, PSDB, PSol, PSD, PDT, DEM, PPS, PR, PTdoB, PRP, PHS, PTC, PSL e PRTB já assinaram o requerimento pela votação, em regime de urgência, da proposta que extingue o 14° e o 15º salários. O fim do privilégio foi aprovado por unanimidade no Senado. Na CPI do Cachoeira, cresce a suspeita sobre empréstimos milionários que o contraventor recebeu da Coreia do Norte. Deputados e senadores desconfiam que se trata de lavagem de dinheiro enviado ao exterior pela quadrilha do bicheiro.
Mais quatro deputados abrem mão dos 14º e 15º e maioria dos partidos anuncia adesão ao requerimento para uma decisão rápida sobre o projeto que acaba com o benefício. Juntas, as legendas somam 297 parlamentares.
No dia em que o Correio publicou a lista dois seis deputados federais em exercício que já abriram mão oficialmente do 14º e do 15º salários antes de o projeto de decreto legislativo que extingue o benefício ser votado, os deputados federais do PPS Augusto Carvalho (DF), Arnaldo Jordy (PA) e Rubens Bueno (PR), líder do partido, tomaram a iniciativa de acelerar sua tramitação na Câmara. Ainda ontem, eles iniciaram a coleta de assinaturas para que um projeto semelhante ao aprovado no Senado, de iniciativa de Bueno em 2010, fosse votado com urgência.
A estratégia, explica o líder, foi feita para que o projeto pelos senadores chegasse à Câmara já sob a obrigação de ser votada rapidamente. A proposta foi aprovada há oito dias e ainda não saiu da Mesa Diretora do Senado. “Como a burocracia está emperrando a chegada, nosso pedido vai permitir que os projetos que tramitam na Casa sejam apensados ao já aprovado e ele se torne preferencial”, comentou Rubens Bueno. Em algumas horas, ele conseguiu reunir apoio suficiente de 14 partidos — PMDB, PSDB, PSol, PSD, PDT, DEM, PPS, PR, PTdoB, PRP, PHS, PTC, PSL e PRTB. Juntos, eles representam 297 deputados.
O requerimento já foi apresentado na mesa diretora na noite de ontem. Mas duas assinaturas não foram incluídas por resistência de seus líderes – PT e PTB. Procurados pela reportagem, o líder petista, Jilmar Tatto (SP), e o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), disseram que não consultaram suas bancadas sobre o tema e, por isso, não querem se posicionar.
A resistência mais explícita, no entanto, tem sido demonstrada pelo próprio presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS). Parlamentares relataram ao Correio que, questionado sobre a votação do projeto na Câmara, Maia tem dito que o tema não deve ser debatido ainda. Abordado pela reportagem, o presidente evitou responder qualquer pergunta. “Nem me pergunte sobre isso que não vou responder agora”, disse.
De acordo com lideranças da Casa, outros parlamentares ironizaram a proposta, afirmando ser preferível votar um projeto dando a mesma regalia aos demais trabalhadores brasileiros à extinção da mordomia dos deputados. Houve ainda quem dissesse que o tema “ainda não é nacional” e, portanto, não deveria ser levado em consideração.
O deputado Augusto Carvalho lembra que, no Senado, a pauta também tinha resistência, mas foi aprovada por unanimidade. “Esse desdém inicial não resistiu à pressão da sociedade, que fica indignada com constantes tentativas de manter esses privilégios, e não vai resistir aqui também”, destacou. O líder do PSol, Chico Alencar (RJ), acrescentou que são “indefensáveis” os argumentos contrários ao fim da regalia. “É uma medida de austeridade totalmente justa que não inviabiliza de nenhuma forma o exercício de qualquer mandato”, declarou.
Novas recusas
Nesta quarta, Luiz Pitiman (PMDB-DF), Augusto Carvalho e Izalci (PR-DF) enviaram um ofício à mesa declarando que também abrem mão do benefício e Rubens Bueno assegurou que o enviará hoje. “Eu já tinha feito isso quando assumi, em 2011, mas, como me licenciei para ser secretário de Obras do DF e voltei em agosto, o pedido foi desconsiderado”, comenta Pitiman. “Quem está no Congresso por causa de salário, melhor fazer concurso público para ter estabilidade”.
O deputado federal licenciado Geraldo Magela (PT-DF), atual secretário de Habitação do DF, informou que havia pedido a suspensão do benefício em dezembro de 2010. O registro, porém, não é contabilizado oficialmente pela mesa diretora, que só considera os parlamentares em exercício. A deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF) afirmou que vai conversar pessoalmente com o presidente Marco Maia. “Se ele confirmar que vai colocar o projeto em pauta logo, vou trabalhar pela votação, caso contrário, abrirei mão do benefício para dar o exemplo”, garantiu.
“Esse desdém inicial não resistiu à pressão da sociedade, que fica indignada com constantes tentativas de manter esses privilégios”
Augusto Carvalho (PPS-DF), deputado federal
Os números da benesse
» Deputados federais recebem dois salários extras por ano, de R$ 26.723,13
» O benefício pago a cada parlamentar custa R$ 53.446,26 anualmente
» Nos quatro anos de mandato, a regalia representa R$ 109,6 milhões à Câmara.
» A recusa de 10 parlamentares em receberam o dinheiro representa economia de R$ 2,1 milhões até 2014
Quem já abriu mão:
Augusto Carvalho (PPS-DF)
Carlos Sampaio (PSDB-SP)
Érika Kokay (PT-DF)
Izalci (PR-DF)
Lincoln Portela (PR-MG)
Luiz Pitiman (PMDB-DF)
Policarpo (PT-DF)
Reguffe (PDT-DF)
Rubens Bueno (PPS-PR)
Severino Ninho (PSB-PE)
Fonte: Correio Braziliense