A redução do elevado número de mortes no trânsito no Brasil – foram mais de 40 mil no ano passado (111 por dia), segundo levantamento do Ministério da Saúde – depende de várias medidas. Uma delas é a que visa a melhorar a educação dos motoristas. O excesso de consumo de álcool, por exemplo, é uma das principais causas de acidentes. Outra é tornar mais rigorosa a fiscalização e mais dura a punição das infrações. É preciso também melhorar as condições de tráfego nas ruas e estradas. Além disso, como pesquisas internacionais têm mostrado, os acidentes de trânsito poderiam provocar menos vítimas fatais e menos feridos, se os automóveis em circulação fossem mais seguros, equipados não só com cintos de segurança, mas também com airbags ou bolsas de ar e freios ABS, que evitam o bloqueio das rodas durante a frenada. Os roubos de carros também podem ser mais bem combatidos com o uso do rastreador, aparelho que permite localizar e travar o carro. Esse equipamento deve ser incorporado aos novos veículos já em agosto de 2013.
Embora atrasado em relação ao resto do mundo – nos EUA, o uso de airbags por todos os carros é lei desde 1998 – o Brasil está modernizando a sua frota. Em 2010, 8% de todos os carros novos produzidos no País foram equipados com airbags e ABS, proporção que vem sendo elevada ano a ano, devendo chegar a 100% em 2014. Os efeitos disso sobre o número de acidentes graves com veículos, hoje uma das maiores causas de morte no País, só poderão ser aferidos daqui a alguns anos, mas as repercussões na indústria já são consideráveis.
A indústria de autopeças instalada no Brasil e nos países com os quais mantemos acordos automotivos ganhou novo impulso com a obrigatoriedade do uso desses equipamentos, multiplicando os investimentos, com efeitos diretos sobre o nível de emprego. Em maio, a coreana Mando inaugurou uma fábrica de airbags em Limeira, onde a americana TRW, também já tem uma. A Takata Petri, associação de capitais japoneses e alemães, tem planos para ampliar sua fábrica em Jundiaí e construir duas outras unidades, uma em Pernambuco e outra no Uruguai. A Bosch, única fabricante de freios ABS na América do Sul, amplia suas instalações em Campinas.
Os motoristas brasileiros vão estranhar essas novas exigências, que naturalmente tornarão os carros ainda mais caros. Só o airbag frontal custa hoje R$ 2 mil. Mas a expectativa é de que, com o tempo, o consumidor as aceite mais facilmente, como aconteceu com o cinto de segurança, este relativamente barato. Há quem conteste o uso de bolsas de ar, que podem estourar, agravando certos tipos de acidentes, especialmente os que ocorrem em alta velocidade. Estudos a respeito, porém, revelam que os motoristas e os passageiros podem trafegar bem mais seguros com o uso do airbag, se for tomado o cuidado de manter as crianças no banco de trás dos veículos, devendo todos os ocupantes usar cintos de segurança.
Quanto ao ABS, os especialistas concordam que é um equipamento que dá segurança ao evitar derrapagem dos carros, mas é preciso que os motoristas saibam como usar corretamente o equipamento, recomendando-se a quem estiver no volante manter sempre o pé no freio ao manobrar o veículo em situações de risco, até que ele pare completamente. É possível que, no futuro, essa técnica conste dos exames para concessão de carta a motoristas profissionais. Segundo Wilson Rocha, da TRW, a tendência é de que o consumidor logo dê preferência aos carros com airbags e ABS, com receio da desvalorização dos carros que não possuem esses itens.
Quanto aos rastreadores, a americana Delphi planeja instalar a sua fábrica na Argentina e de lá exportar para o País. Assinale-se que o Brasil é o único país a tornar o uso desse equipamento obrigatório, o que parece um exagero, mas é compreensível. Dadas as deficiências de policiamento, o roubo de carro é um dos crimes que mais crescem no País, em algumas regiões à razão de 20% ao ano.
Fonte: O Estado de S. Paulo