As estradas federais viveram ontem um dia de violência: cinco pessoas morreram por conta das manifestações dos caminhoneiros em todo o país. Além disso, o protesto, que reivindica a redução do preço do óleo diesel e das tarifas dos pedágios, já provoca desabastecimento nas cidades. Cargas perecíveis estão estragando dentro dos veículos parados e frutas e legumes estão até 20% mais caros nos supermercados por falta de reposição dos estoques.
Todavia, nem o prejuízo nem a decisão da Justiça, de bloquear os recursos do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC), que promove as manifestações, além de congelar os bens pessoais do presidente da entidade, Nélio Botelho, impediram a continuidade da greve. Segundo Botelho, os motoristas não vão mais interditar estradas, mas a paralisação continua. “Vamos ficar estacionados fora das rodovias. Mas não é no acostamento”, disse ele.
A decisão do líder do movimento, porém, chegou tarde demais. Às 5 h de ontem, uma fila de caminhões parados no acostamento da BR-116, no sul da Bahia, provocou um grave acidente, que causou a morte de quatro pessoas. Uma van que trafegava pela rodovia colidiu com a traseira da última carreta, próximo ao Km 900. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que o acidente aconteceu em um momento em que não havia interdição da pista.
A PRF contabiliza 92 interdições de estradas federais desde o início do movimento, na última segunda-feira. Vinte e seis prisões foram efetuadas, incluindo as dos suspeitos de terem provocado a morte do caminhoneiro Renato Kranlow, de 44 anos, agredido por manifestantes na BR-116, no Rio Grande do Sul, quando deixava Pelotas em direção a Porto Alegre, na quarta-feira à noite.
Também no Rio Grande do Sul, a PRF prendeu 10 motoristas durante a madrugada, todos acusados de terem liderado os bloqueios e participado de protestos em duas rodovias federais. Os casos ocorreram na BR-392, em Canguçu, e na BR-116, na região de Pelotas. Alguns manifestantes atiraram pedras contra os carros da polícia.
Multa
O movimento não está mobilizando apenas a PRF. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar a suspeita de que a greve está sendo patrocinada por empresários, movimento conhecido como locaute e proibido pela legislação brasileira. O ministro dos Transportes, César Borges, chegou a afirmar que Botelho “engendrou” as paralisações, o que o coloca como um dos principais responsáveis pelo crime. Segundo a Advocacia-Geral da União, Botelho também é presidente da Cobrascam, cooperativa de motoristas autônomos que tem 39 contratos com a Petrobras, com os quais fatura R$ 4 milhões por mês. A estatal já foi orientada a cancelar os acordos.
Ontem, a 8ª Vara Federal do Rio de Janeiro determinou que a Cobrascam devolva à União o terreno de 170 mil metros quadrados onde está localizada a sede da cooperativa, no Km zero da Rodovia Presidente Dutra, no subúrbio carioca de Parada de Lucas. O MUBC funciona no mesmo local. A Advocacia-Geral da União (AGU) pedia a desocupação da área desde 2009. Botelho disse que se trata de uma represália ao movimento.
Por conta das suspeitas de locaute, a União conseguiu na Justiça o bloqueio de mais de R$ 6,3 milhões do MUBC. O valor ficará retido para garantir o pagamento de multas pela desobediência a uma decisão judicial, proferida no último domingo, que proibiu explicitamente a interrupção de estradas federais. Inicialmente, a penalidade foi estabelecida em R$ 10 mil por hora, mas a Justiça Federal no Rio de Janeiro aumentou o montante para R$ 100 mil por hora de paralisação.
O governo promete continuar agindo com rigor. O presidente do MUBC alegou que o movimento não tem nenhuma receita própria e vive de doações. Botelho chegou a negar ser o líder das manifestações nas estradas. “Essa greve foi proposta e programada pela absoluta maioria dos caminhoneiros em todo o território nacional”, defendeu-se.
Fonte: Correio Braziliense