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jan/2015

Causa, Consequência e erros dos dois lados

Uma rápida abordagem sobre mortes de pessoas desarmadas em intervenções policiais.

Por Filipe Bezerra

Esta semana foi divulgado um vídeo onde uma guarnição da PM do Rio de Janeiro disparou em um carro que desobedeceu ordem de parada. Nele uma jovem morreu após levar um tiro de fuzil. A mídia, como de costume, abordou a questão de forma simplória como apenas mais um erro crasso da polícia.

O estado mata duas vezes quando não dá treinamento adequado e regular às polícias e quando desacredita a polícia promulgando leis limitando o uso de arma de fogo e proibindo disparos em veículos em fuga e/ou que furem barreiras policiais. Há uma mensagem implícita (talvez até explícita) de que a polícia é despreparada e que paradoxalmente não deve ser respeitada (o fato dela ser “despreparada” deveria provocar justamente um cuidado redobrado para evitar tragédias). O resultado disso é que pessoas estão provocando perseguições por motivos ridículos como, por exemplo, um documento atrasado. Em países de pessoas educadas fugir da polícia é coisa de bandido e é por isso que compatriotas nossos estão morrendo também nas mãos de polícias tecnicamente preparadas como o que aconteceu com Jean Charles na Inglaterra, de André Luiz de Castro Martins nos Estados Unidos e Roberto Laudisio na Austrália; o que mostra que a causa das tragédias é tanto a falta de postura do abordado quanto o consequente erro de avaliação da polícia.

Mas o que o governo e a mídia não dizem é que 99% destas ocorrências não aconteceriam se, por exemplo, as pessoas demonstrassem, de imediato, que são cidadãos de bem parando imediatamente o veículo ou levantando as mãos quando abordadas. Ano passado tive que parar o carro pra atender o telefone numa rua de pouco movimento. Minutos depois apareceu uma viatura da PM vindo me abordar. Imediatamente liguei a luz interna, baixei os vidros, e coloquei minhas duas mãos pra fora da janela. Quando o oficial chegou na minha janela informei que era policial, que minha pistola e minha funcional estavam no banco do passageiro e que havia parado pra atender o telefone. Tudo transcorreu perfeitamente após uma verificação tranquila. Se tivesse agido como um idiota fugindo ou não sendo claro, daria margem pra ter uma arma apontada pra mim ou até que algum policial mais afoito alvejasse meu veículo em fuga (o que entendo ser perfeitamente possível dado o nível da nossa violência e o nível de stress dos profissionais de segurança pública que correm constantemente risco de vida ao abordar marginais todos os dias).

Urge que se promova no Brasil imediatamente uma cultura de respeito à polícia. Em alguns estados americanos as auto escolas ensinam como se por portar numa abordagem policial, como, por exemplo, manter as mãos no volante e agir somente quando o policial dar comando. Tal medida visa baixar o nível de stress da abordagem e resguarda tanto o policial quanto o abordado, evitando tragédias como as que constantemente observamos no noticiário.

Enquanto se atacar apenas as consequências e não as causas, estaremos longe de resolver essa problemática. Herbert Viana disse em sua música “calibre do perigo” que NO CAOS NINGUÉM É CIDADÃO. Mais cirúrgico impossível! Na condição de país mais violento do mundo com seus 60.000 homicídios anuais (sendo destes 490 policiais assassinados) os policiais não podem mais baixar a guarda sob pena de serem mortos por marginais armados e a população deve urgentemente aprender a se portar de forma condizente com a nossa realidade de guerra civil não declarada.

Filipe Bezerra é policial rodoviário federal, bacharel em Direito pela UFRN, pós-graduado em Ciências Penais pela UNIDERP e estudante de Administração Pública na UFRN.

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