Linhas de ônibus com internet wi-fi e ar-condicionado, como as que começaram a rodar ontem (2) na capital paulista, são mecanismos que podem atrair motoristas para o transporte público. É o que diz o canadense Todd Litman, especialista em mobilidade urbana, que participou hoje (3) de um seminário sobre o desestímulo ao uso do automóvel.
“As pessoas sentem uma sensação de dignidade quando sobem em um ônibus em São Paulo? Essa é a mudança mais importante que vocês podem alcançar: fazer com que [usar o transporte público] seja atraente para as pessoas”, afirmou Litman, ao participar do encontroo organizado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).
Diretor do Instituto de Políticas de Transporte de Victoria, no Canadá, Litman também ressaltou que as cidades devem se preparar para estimular o uso da bicicleta e a prática de caminhadas.
“São Paulo tem vias melhores para os carros, tem faixa exclusiva para ônibus, mas as calçadas são terríveis para os pedestres. É horrível para quem está em uma cadeira de rodas. Falo sobre uma cidade em que todos possam se movimentar”, disse ele. Para ele, os adeptos do transporte individual precisam ser convencidos também pelos aspectos da economia financeira e da redução de acidentes, bem como dos benefícios da prática de exercícios físicos.
O presidente do Iema, André Ferreira, destacou, por sua vez, outros benefícios da adoção de meios de transporte limpos, como a diminuição das emissões de gases poluentes e a melhoria da qualidade do ar. “Ao falar em combustível fóssil no Brasil, é preciso focar necessariamente em transporte”, disse Ferreira. Os dados apresentados por ele mostram que, dos quilômetros rodados hoje em transporte de passageiros, 96% dos deslocamentos ocorrem no transporte individual. “Os impactos disso ocorrem não só no congestionamento, mas há um conjunto de externalidades.”
Como exemplo dos benefícios provocados pela adoção de mecanismos para melhorar a eficiência do transporte coletivo, Ferreira apresentou um estudo do Iema sobre a implantação de faixas exclusivas para ônibus na cidade de São Paulo. A análise de três corredores mostrou que houve, além da diminuição do tempo de viagem, redução do consumo de combustível e da emissão de gás carbônico. Em algumas linhas, houve queda de 14,3%. “A faixa é algo mais tímido do que um corredor expresso. É uma medida de baixo custo, que trouxe ganhos na redução de todos os gases poluentes”, destacou.
Os impactos que a crescente motorização no transporte de passageiros provocam na saúde também foram abordados no seminário. O professor do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Nelson Gouveia, lembrou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) coloca a poluição do ar entre os dez principais fatores de risco para a saúde humana.
“As pesquisas mostram que morrem mais pessoas em dias mais poluídos, nos quais há também maior número de admissões hospitalares, principalmente por doenças cardiovasculares”, disse o professor.
Fonte: Agência Brasil