O único brasileiro na Cúria Romana alerta: o Brasil precisa eliminar a corrupção e mudar a política capenga que se instaurou no País. Prefeito da Congregação para os Institutos da Vida Consagrada, d. João Braz de Aviz contou detalhes do pontificado mantidos em sigilo e confirmou: há laranjas podres no Vaticano, e Francisco vai reformar a Igreja.
Qual a importância de um papa latino-americano?
O papa está sereno e tem um coração para os jovens. O continente nosso agora tem uma palavra para dar. Não só aos católicos, mas para o mundo.
A situação social no Brasil preocupa diante dos protestos?
Fiquei surpreso que os sindicatos tenham chegado depois do povo. Normalmente, eles vão antes. Isso é raríssimo no Brasil. O fato de que há um grande número de pessoas que querem um Brasil humano, mais desenvolvido. Alguns perguntaram se seria seguro o papa ir agora. Nós sempre dissemos que nunca vimos problema de segurança. É um fenômeno positivo, se não partir para a violência. Os grupos que instrumentalizam o movimento, que puxam partidariamente e ideologicamente estragam uma ação que seria fenomenal.
Qual deve ser a reação da classe política?
Precisamos caminhar muito mais para eliminar a corrupção, não atuar apenas para projetos do próprio grupo político. Mas desenvolver projetos do povo brasileiro. Temos de reformar muito nossa política; ela está muito capenga.
O que se diz na Cúria após outro escândalo sexual, agora afetando o homem nomeado para reformar o banco do Vaticano?
Há muito que precisa ser remodelado. A estrutura muito pesada, complexa, como se admite as pessoas que trabalham ali, como e por que são admitidas.
O que o papa fará?
Isso é como na família. O pai vai sempre achar que o filho é bom. Agora, às vezes o filho dá uma deslizada e o pai não sabe. Não temos como saber. Mais de dois terços do Vaticano luta, ama e trabalha. Agora, tem um outro pessoal.
Existe então uma laranja podre no Vaticano?
Existe, existe. Temos de separar e ter cuidado.
Mas o papa já começou a mudar as coisas internamente?
Nossa senhora. Ele é um papa direto. Às vezes, me liga: Querido hermano, como estás? E manda um bilhetinho assim: Hermano João . Ele não passa por terceiros. Tem reformas em andamento. Não diria surpresa, mas teremos alegrias de ver as coisas se acertando. Bento XVI era tímido. Eu o amo demais. Mas era outro caráter, mais quieto. Francisco, não.
Fonte: Estado de S. Paulo