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ago/2012

Nota do SINPRF/RS quanto ao fim da greve

Devido a repercussão sobre o acordo firmado pela FenaPRF com o governo federal decidi compartilhar alguns esclarecimentos com os colegas, pois como presidente do SINPRF/RS tive a oportunidade de participar ativamente desta greve.

Inicialmente recordo que vínhamos numa série de negociações com o MJ e MPOG, inclusive com a morte trágica do então Secretário Durvanier após uma destas reuniões, e que até pouco tempo a proposta de reajuste era zero de aumento para todo funcionalismo público. Tenho claro que nossa greve realmente iniciou quando numa destas reuniões a nossa Federação alertou o Ministro da Justiça José Eduardo Cardoso sobre o risco de uma greve e ele respondeu que quem decidia o que fazer não eram os sindicatos, mas sim a base.

Aquela frase repercutiu fortemente em cada policial, soou como uma espécie de provocação, pois representou que o Ministro estava duvidando da palavra da FenaPRF e do sistema sindical, que não suportavam mais a pressão da base por mudanças, já que o próprio Cardoso havia garantido em Foz do Iguaçu, no 1º Congresso dos PRFs, que nós não seríamos mais o “primo pobre” do MJ.

Foi neste instante que iniciamos a greve e mostramos do que somos capazes: chamamos a atenção do Brasil, nos mobilizamos, aprendemos a fazer greve do dia para a noite, realizamos operações com grandes repercussões, passeatas com carro de som e faixas, chamamos a atenção da mídia e reavivamos a greve no funcionalismo público federal que já estava numa descendente.

Vibrei ao ver nossa Assembleia com mais de 150 policiais que aprovaram a greve por unanimidade, em pé, com cobertura de toda a imprensa. Vi aposentados aderirem em peso ao movimento, empunhando faixas, unidos num movimento de mudanças por acreditar numa polícia melhor, mais forte e respeitada.

Rendo mais homenagens aos chefes que entregaram as funções, pois enquanto a maioria estava com receio de entregá-las, deram o exemplo num ato público de união, coragem e desprendimento. Fomos seguidos Brasil afora, não por todos, pois é preciso ter coragem.

Aliás, lembro que foi aqui em Porto Alegre que em janeiro de 2010 iniciamos o movimento Nova PRF que mudou os rumos de nossa instituição, e graças a esta mudança ontem mesmo, dia 28, formaram-se os novos PRFs que irão amenizar o grave problema da falta de efetivo, a primeira turma de policiais com nível superior da história da PRF.

Foi justamente o peso e a importância do nível superior o motivo decisivo que levou a maioria dos sindicatos a aceitarem o acordo com o governo. Aqui sinto-me no dever de dar meu testemunho do que ocorreu nos bastidores das negociações, pois estive em Brasília anteontem (27) e participei das reuniões da FenaPRF e no MPOG.

Na primeira reunião do dia discutimos as tabelas salariais, analisamos a conjuntura e os cenários políticos, trabalhamos sobre a proposta em si e com algumas variáveis, fizemos projeções e votamos. Inicialmente a maioria decidiu que somente aceitaríamos a nossa tabela, e não a proposta pelo governo.

A FenaPRF se esforçou muito, construiu uma tabela quase mágica que fez 15,8 virarem 45%, reuniu-se pessoalmente com o Ministro da Justiça horas antes da negociação (foram recebidos sem hora marcada) e apresentou a tabela com um discurso de que o Ministro seria reconhecido por toda a categoria, cumpriria sua promessa lá de Foz do Iguaçu, teria o efetivo motivado para os grandes eventos. Ele por sua vez enviou a proposta ao Planalto.

Fomos para a reunião, eram 16h de 2ª-feira, 27 de agosto.

A apresentação da tabela perante o Secretário das Relações do trabalho foi técnica, profissional, de alto nível, com direito a diversos elogios do próprio Sérgio Mendonça, mas infelizmente ela não foi aprovada: não havia espaço para adentrar com aumentos em 2016. Esta foi a mágica para que 15,8 virassem 45%.

Voltamos para o hotel, nova reunião. O peso de representar uma categoria com a importância da PRF pesa aos ombros, o tempo passava, tínhamos somente mais um dia de prazo. Era tudo ou nada, esse sempre foi o discurso do governo. Nova votação. O não venceu por pequena maioria. Posições divergentes, ânimos exaltados, análise de cenários políticos, outras categorias fechando acordo. Discutimos qual era a real capacidade de mobilização da categoria, quantos realmente estariam dispostos a continuar uma greve? Por quanto tempo?

O peso da liminar do STJ ainda persistia (e persiste), já que a Federação ainda não obteve julgamento do agravo interposto. Quais nossas reais chances? Tínhamos de ser realistas, sem ilusões.

O tempo continuava a passar, alguns representantes iniciaram uma consulta as bases por celular, mensagens, e-mails. Chegou-se a propor uma votação através do site da FenaPRF mas não haveria tempo hábil nem confiabilidade na sistemática de votação.

Ao final venceu a posição pela assinatura do acordo, o placar sempre foi apertado e o sim superou o não por um único voto: 13 a 11 (se um sindicato mudasse de opinião seria empate). Venceu a democracia. O Rio Grande do Sul foi voto vencido, pois levei a opinião dos policiais, mas lembro que em nosso Estado também não houve unanimidade.

Imagino o peso que teve a caneta do presidente Cavalcanti ao assinar o acordo na noite de ontem. O peso da responsabilidade de milhares de policiais, milhares de famílias. Não foi fácil, com certeza. A sua posição é para poucos.

Embora a opinião de nosso Estado tenha sido vencida quanto ao acordo, acredito que o nível superior irá sim trazer muitos benefícios. Estaremos em outro patamar, no mais alto.

Não cabe a mim emitir julgamentos. Cada Presidente de Sindicato tem responsabilidade com seu Estado e os associados. Acredito sim que o Sindicato do RS fez a sua parte: seguiu as orientações da Federação, realizou a assembleia, reuniões, estabeleceu um fluxo de informações com os associados, motivou, ouviu o efetivo e realmente fizemos greve quando era hora de fazer. Lutamos por uma PRF melhor.

E acredito que todos os que estavam na reunião em Brasília votaram pensando no melhor para os policiais e nossa instituição. Ninguém pode garantir a priori se foi uma escolha boa ou ruim, pois estamos falando do futuro. Quem estava certo o tempo irá dizer.

Acredito que agora seja hora de avaliarmos nosso movimento grevista, pois não temos compromisso com o erro e queremos melhorar. Estamos aprendendo a fazer greve contra um governo que nasceu em 1980 justamente do sindicalismo.

Passado o calor do momento eu chamo a todos para usarmos esta experiência como um momento de crescimento, e não de forma negativa. Também discordo de muitas coisas que ocorreram, mas também presenciei muita gente se entregar incondicionalmente ao movimento.

Hoje mesmo em uma das reuniões que participei surgiram sugestões muito boas, como a necessidade de os Estados terem voto proporcional ao número de associados, para realmente ser uma democracia mais representativa. Também sugeriram que os sindicatos uniformizem seus estatutos para permitir um sincronismo de ações nas próximas mobilizações. Tenho certeza que novas idéias virão, para isso já foi marcada nova Assembléia dia 04.

Algumas coisas estão ao nosso alcance, outras não, e democracia pressupõe aceitação. Nesta greve todos, absolutamente todos, tiveram oportunidade de participar: chefes e subordinados, operacionais e administrativos, ativos e aposentados. Foi a hora de mostrar quem é quem, de que lado joga e também do que somos capazes.

E mostramos que unidos somos fortes, que a Polícia Rodoviária Federal tem capacidade de se mobilizar em prol de seus objetivos e que o esforço de cada um que participou da greve fez toda a diferença no conjunto, mostrando ao Brasil o poder de mobilização do RS. A luta tem que continuar, pois muito ainda temos para conquistar.

Francisco Dalla Valle Von Kossel
Presidente do SINPRF/RS

Fonte: SINPRF/RS

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