30

dez/2011

Novos rumos do nosso sistema sindical

Por José Antônio dos Santos Medeiros*

Recentemente, os policiais rodoviários federais elegeram uma nova diretoria para a FenaPRF. Foram anos de discussões, onde a falta de abertura dos que comandavam a Federação acabaram por desgastá-los.

Foi uma espécie de primavera árabe no seio da corporação como um todo. Nas superintendências, havia feudos que já se aproximavam dos vinte anos no poder. Foram anos de chumbo, podemos comparar assim.

Na ânsia de manter o “status quo”, os segmentos que em tese deveriam se conflitar juntaram-se contra os que deviam, em tese, defender. Tal qual o período da ditadura, a força foi o instrumento de mantença deste tão longo período de poder. A PRF era bem parecida com a CBF, onde há um presidente eterno com apoio de presidentes de federações estaduais, com vinte, trinta anos no cargo.

As lideranças que surgiram foram massacradas com processos que se arrastavam eternamente, por meio de constantes engavetamentos e posteriores reaberturas.

Esse tipo de estratégia funcionou, mas também desgastou. Chegou a um ponto em que a tampa da “panela” explodiu e, num momento só, “findou-se”, pelo menos em tese, o reinado no DPRF, nas superintendências e também na Federação.

Embora alguns digam que nada mudou e que saímos da chibata do antigo Diretor para a do novo Coordenador Geral de Operações, eu prefiro acreditar que o quadro atual é outro.

Mudanças, por pequenas que sejam, trazem novos ares. Embora a influência da gestão passada seja solar na atual gestão da PRF, o poder é apenas de sugestão. As cabeças são diferentes e já não possuem a condescendência da FenaPRF.

O grande legado de situações passadas é a atenção, que deve ser redobrada. Precisamos ficar de olhos bem abertos com o setor correcional da corporação. Muitos colegas estão hoje na “rua”. Eles foram vítimas da corrida por cargos dentro do órgão. Tenho um amigo que resume esta questão numa simples frase: “a maioria dos corregedores almejam o cargo maior, a forma de conseguir isto é com produtividade, leia-se, escalpos”.

É um absurdo que uma coisa desta possa ter acontecido, mas existe fundada suspeita sobre o fato, pois no país inteiro pululam os casos de demissão por questões que seriam, no máximo, motivo pra uma advertência verbal. Temos casos de demissão até por rasura de auto de infração.

Mas isto tudo aconteceu debaixo da passiva vista da FenaPRF, que teimava em dizer que o papel dela era cuidar de questões macro. Estes assuntos, na verdade, eram locais, segundo a gestão passada. Quantas vezes vi o assessor da FenaPRF da época dizer que a Federação não é sindicato”. Discordo, a Federação é o maior de todos, é o supersindicato formado por todos os outros.

Novas perspectivas – Não vou me ater apenas ao passado. É necessário falar do novo, do presente e do futuro. Tenho acompanhado de perto o trabalho da nova diretoria da FenaPRF, e estou otimista.

Elegemos um presidente tranqüilo e sereno. Não que o anterior não fosse. Porém, contra Da Silva, pesa o fato de ter se quedado inerte diante da “carnificina” das ações do DPRF.

Ressalto o incessante trabalho da Diretoria. Fiquei uma semana em Brasília e pude acompanhar o quanto esta equipe tem trabalhado.

Agora mesmo, a PRF está correndo um sério risco de ver o governo, por meio do PL 554/2010, praticamente acabar com o regime especial de aposentadoria. A FenaPRF tem acompanhado o trâmite do projeto de perto, inclusive contratando profissionais com experiência, dentro do Congresso Nacional, que conhecem bem a cultura da casa e auxiliam e qualificam as negociações.

Tive oportunidade de acompanhar o presidente Pedro Cavalcanti, o diretor Parlamentar Renato Dias – PRF e ex-assessor do senador Demóstenes Torres – e o assessor Parlamentar Landri em reuniões junto a parlamentares. E percebi que estamos no caminho certo.

A Diretoria busca se cercar do que tem de melhor, em termos de assessoria, para poder enfrentar os técnicos do governo. Foi uma decisão correta. Negociar com o governo não é tarefa fácil. Possui a AGU, o TCU e todos os “Us” que se possa imaginar, munidos de muita competência para “ferrar” com a vida do servidor. Enfrentá-los de igual pra igual já é difícil, imagine de forma empírica.

Dentro do parlamento também não é fácil. São infinitos interesses em conflito. Lidar com estes “jogadores” não é tarefa para amadores. Acertadamente, a Diretoria fez uma contratação importante. Temos, além dos nossos colegas diretores parlamentares, um profissional com mais de 20 anos de experiência na casa. Tive a oportunidade de conhecê-lo e vê-lo trabalhando de perto. Quero parabenizá-lo e ainda congratular Cavalcanti, Renato, Tácio, Carniel, Falcão, Genildo e toda atual Diretoria por pensar desta forma.

Estão no caminho certo. Como dizia o pensador, se queremos derrubar a mata, deve-se pensar bastante na qualidade das ferramentas.

Cheguei a enviar um email para o presidente da Federação elogiando a assessoria parlamentar. Em recente reunião da qual participei, com a presidente da Frente parlamentar da PRF, Alice Portugal, vi um documento preparado pelo senhor José Landri, e pude ver a qualidade do trabalho. Também considero interessante a forma discreta com a qual estas pessoas trabalham. São praticamente invisíveis dentro do Congresso. Mas não se enganem quem não tiver a seu lado. Sem o trabalho destes “seres invisíveis” muitos dos objetivos da categoria está fadado ao fracasso.

Estamos bem, nossa seleção de craques está jogando em alto nível. Com isso, não significa que devemos nos acomodar. Acredito que os sindicatos devem voltar à atuação que tinham a bem pouco tempo, pois tenho observado que, devido a um trabalho mais ativo da Federação, os sindicatos têm se acomodado um pouco.

Atuar junto aos parlamentares é uma atitude que também precisa ser priorizada pelos sindicatos. Alguns, inclusive, já estão conseguindo até emendas individuais de deputados e senadores para a reforma dos postos de seus respectivos estados.

Isto é inédito. Mostra que, além da defesa dos nossos direitos, também podemos melhorar as condições de trabalho, embora este papel devesse ser feito pelos superintendentes e pelos gestores do DPRF. Estes, por sua vez, fizeram opção por negar a política. Contudo, da boca para fora, ainda dizem que “a política é importante”, mas na prática, verifica-se que falar em política para eles é o mesmo que falar de corda em casa de enforcado.

Feliz natal a todos e parabéns mais uma vez a nova PRF.

*Policial Rodoviário Federal e suplente de senador por Mato Grosso

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