O número de greves no país atingiu em 2012 o maior número (873) desde 1997, segundo balanço divulgado hoje (22) pelo Dieese. Em relação ao ano anterior, o crescimento foi de 58%. A quantidade se aproxima dos primeiros anos do Plano Real – entre 1994 e 1996, o total de paralisações sempre superou mil. O número de horas não trabalhadas (86,9 mil) foi o maior desde 1991.
Para o instituto, o aumento relaciona-se “em alguma medida” com a situação do mercado de trabalho nos últimos anos. “O crescimento do número de ocupados e do emprego formal influencia a disposição e as motivações do trabalhador. A combinação de um ambiente de maior segurança econômica com a percepção de que os ganhos salariais, apesar de expressivos, não são ainda suficientes para dirimir as perdas salariais de anos anteriores, reforça as mobilizações”, diz o Dieese.
Desde meados dos anos 1980, o Brasil teve três períodos de forte mobilização,
também impulsionada pelo fim da ditadura, em 1985. Entre 1986 e 1987, o número de paralisações ficou acima ou próximo de mil – era a fase dos primeiros planos econômicos. Praticamente colado, veio o biênio 1989/1990, o fim do governo José Sarney, marcado pela hiperinflação, e o início da gestão Fernando Collor, com alta do desemprego e oposição à política econômica. Assim, 1989 registrou o maior número de greves da série histórica (1.962), seguido justamente por 1990 (1.773).
Dos 873 greves do ano passado, a maioria (461, 53%) foi feita no setor privado, com predominância da indústria (330, 37,8%). No segmento metalúrgico, o número cresce de 60, em 2011, para 244, uma variação que o Dieese atribui, parcialmente, à “conjuntura de negociações” da categoria: “Em alguns ramos, no estado de São Paulo, a dinâmica da negociação da campanha salarial levou a categoria a buscar a negociação coletiva por empresa, o que resultou na deflagração pulverizada de greves”. Além disso, de 141 greves por participação nos lucros ou resultados (PLR) feitas na indústria, 113 ocorreram em empresas metalúrgicas.
O instituto cita ainda a greve nacional dos bancários, tanto do setor privado como público, “que atingiu o pico de 280 mil trabalhadores e prolongou-se por 10 dias”.
Entre as greves no setor público, 26% referem-se ao funcionalismo municipal, 13% ao estadual e 4,2%, ao federal. Em menor escala, as paralisações atingiram também empresas estatais.
O Dieese destaca as greves no setor público de ensino, especialmente após o reajuste no valor do piso nacional do magistério. “Desde então, ao longo do ano, professores e auxiliares de administração escolar paralisaram atividades em municípios onde os salários não foram regularizados.”
Praticamente 60% dos movimentos duraram no máximo cinco dias. Mais de 30% começou e terminou no mesmo dia. Em torno de 12% superaram um mês. Das 101 greves com duração acima de 30 dias, 87 ocorreram entre servidores públicos. E quase um quarto do total (24%) foram as chamadas greves de “advertência”.
“A ausência de regulamentação da negociação coletiva de trabalho no funcionalismo público continua a ser um fator importante para explicar a discrepância entre a duração das greves nas esferas pública e privada”, observa o Dieese. “Devido à virtual inexistência de data-base para a renovação das normas que regem as condições de trabalho, a paralisação das atividades é, muitas vezes, instrumento para pressionar pela abertura de negociações – que raramente têm início imediato.” O instituto lembra ainda que as negociações na área pública costumam ser complexas, por envolver vários órgãos e instâncias.
Fonte: Rede Brasil Atual