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nov/2013

PF identifica 130 suspeitos de incitar a violência durante protestos

Pelo menos 130 pessoas suspeitas de ligação com as atividades dos black blocs foram identificadas atuando no Rio e São Paulo, revela relatório produzido pela Polícia Federal a partir de informações obtidas nas redes sociais e em manifestações de rua que terminaram com violência nos últimos meses. O documento já foi distribuído aos setores de Inteligência das polícias estaduais dos dois estados. É a primeira iniciativa da parceria na área de Inteligência depois de o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciar que as polícias iriam atuar em conjunto para investigar os grupos responsáveis por depredações, agressões e outros atos de violência que marcaram as mais recentes manifestações nas duas maiores cidades do país.

A PF também investiga se existe fluxo de recursos internacionais nas operações dos black blocs no país. A suspeita surgiu durante o rastreamento de comunicações entre brasileiros e membros do Anonymous, no exterior. Numa página supostamente hospedada nos Estados Unidos, o assunto foi discutido no mês passado, quando foram divulgadas nas redes sociais prisões durante protestos no Brasil. Na página, que seria oficial do Anonymous, foi feito um apelo de ajuda aos brasileiros. Para a PF, isso pode reforçar a suspeita da existência de uma relação financeira entre os grupos. …

Um trecho do apelo foi traduzido e reproduzido pela PF no documento ao qual O GLOBO teve acesso: “Os membros brasileiros do Anonymous, especialmente os irmãos e as irmãs do Rio de Janeiro, estão sendo marginalizados pelo governo do estado, com o apoio do governo federal. (…) Estão expedindo mandados de prisão tanto para os irmãos black blocs como para os administradores das páginas Anonymous. (…) Qualquer ajuda de nossos irmãos e irmãs será bem-vinda”.

A PF ainda alerta para o fato de que integrantes do Black Bloc e do Anonymous estarem usando a internet para convocar simpatizantes para manifestações simultâneas hoje no Rio (Candelária), São Paulo (Masp) e outras capitais, como Curitiba e Porto Alegre. Chamou a atenção da PF o fato de caminhoneiros, médicos e até servidores da própria Polícia Federal também estarem programando protestos para hoje. Desde a visita do Papa Francisco ao Rio, em julho deste ano, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), agentes da Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da PF de Brasília monitoram os protestos nas grandes capitais brasileiras.

Relatório aponta para o risco de atos violentos

O relatório produzido agora foi feito depois de um levantamento realizado no início do mês passado pelo escritório da Interpol no Rio, que rastreou as ações de grupos com perfil anarquista baseados no Rio e em São Paulo. Nele, policiais federais lotados na Interpol alertavam autoridades públicas para o risco de ocorrerem manifestações violentas este mês, com supostos ataques a páginas na internet de instituições públicas e privadas. Cópias do documento foram repassadas à Secretaria de Segurança do Rio e ao Ministérios Público do estado e ao federal no estado.

A Polícia Federal relaciona os nomes — todos maiores de idade — que se apresentaram nas redes sociais como membros do Black Bloc ou do Anonymous. A PF mantou um dossiê com fotos, endereços, RGs e datas de nascimento e filiação de todos os envolvidos.

A Interpol já identificou membros do Anonymous e do Black Bloc do Rio atuando em outros estados, como São Paulo e Brasília. Eles também estariam conectados com integrantes dos grupos em países como Estados Unidos, Inglaterra, França, México, Itália e Portugal. A ideia seria promover ações simultâneas em várias partes do mundo.

A difusão das informações que constam das investigações incluiu, além das autoridades do Rio, a embaixada dos Estados Unidos, em Brasília, e o escritório do FBI nos Estados Unidos. O documento foi difundido ainda no canal de comunicação da Interpol, que engloba 188 países.

Black Bloc: rosto escondido, ideias contraditórias

Anonymous, a face globalizada dos manifestantes

Eles são centenas nas manifestações. No Rio, vêm de diferentes bairros cariocas, da Baixada Fluminense e de cidades da Região Metropolitana. Os black blocs são jovens, e a maioria tem menos de 25 anos. Em geral, frequentam universidades e escolas secundárias. Os rostos estão invariavelmente ocultos, e o grupo é geralmente apontado como estopim de confrontos em manifestações que começam de forma pacífica.

Por trás das máscaras, capuzes e roupas pretas dos black blocs, está uma variada lista de referências, muitas delas contraditórias, que ditam o comportamento do grupo, majoritariamente formado por homens. Entre eles, não há uma liderança estabelecida. Comunicam-se por meio das redes sociais e mantêm perfis no Facebook e no Twitter, nos quais descrevem a participação nas manifestações. Os black blocs não se integram com os demais manifestantes. Por diversas vezes, durante atos de centrais sindicais, integrantes do grupo hostilizaram sindicalistas, estudantes e jornalistas.

Também mascarados e alvo de investigações, os hackers ativistas do Anonymous formam outro grupo que atua no Rio e em estados como São Paulo. O Anonymous seguiu o rastro do filme “V de Vingança” e adotou o personagem V como ícone anarquista, popularizando a máscara usada pelo protagonista da obra, de 2005, que tem sua origem num personagem do século XVII conhecido nos países de língua inglesa por Guy Fawkes.

Fonte: Blog do Sombra

 

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