Em meio às greves do serviço público federal, uma chama a atenção do Vale do Caí em especial: a da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Principalmente porque a BR 386, uma das principais rodovias que dá acesso à região, reflete essa problemática. Não são poucos os que discordam do movimento. Geralmente são aqueles que emitem juízos sem conhecer o contexto da situação ou que enfrentam problemas no trânsito em decorrência dos protestos dos policiais. Há, ainda, os que se colocam contra por entenderem que os policiais rodoviários federais já ganhariam bem.
Nivelar por baixo é reducionismo, ainda mais na área da segurança pública. Se a PRF empreende sua primeira greve em 84 anos de existência, e se esse movimento tem adesão de praticamente todos os estados – à exceção de Tocantins – é porque existe uma deficiência significativa a ser analisada.
Qual o trabalhador não aspira receber reajuste de salário uma vez ao ano, no mínimo, devido à inflação? Os agentes da PRF tiveram o último em 2010, e se terão um aumento agora em 2012 será por conta do movimento. Mas esta parece ser a questão de importância inferior. A categoria não percebe, por exemplo, direitos que a grande maioria dos trabalhadores desfruta, como adicional noturno e insalubridade. Este último item chama a atenção em especial nos tempos em que a violência aumenta e, com ela, o desrespeito às instituições e aos agentes da lei. Não de pode ignorar que ser PRF é, efetivamente, uma atividade de risco – seja porque envolve ações diárias de fiscalização de trânsito, seja porque se combate de frente a criminalidade.
Questões financeiras, contudo, são apenas parte da crise que a corporação vivencia. Só para citar realidades no Rio Grande do Sul, há postos policiais fechados por falta de efetivo. Ao mesmo tempo, a frota de veículos cresce recorde sobre recorde, o que significa maior demanda de trabalho. São menos de 700 agentes para, em sistema de revezamento, patrulhar milhares de quilômetros de rodovias federais no Rio Grande do Sul. Urge a contratação de mais servidores, não apenas para dar melhores condições de trabalho ao efetivo atual, mas também para que a população seja atendida melhor.
Mesmo com essas razões a seu favor, a categoria não deve colocar-se à margem da lei. Direitos precisam ser respeitados. Operações-padrão, por exemplo, que não são feitas rotineiramente, não se justificam agora só porque as negociações com o governo federal não têm avançado.
Fonte: Jornal Ibiá