Policial foi afastado por 12 anos e cinco meses da Polícia Rodoviária Federal acusado de desvio de dinheiro e formação de quadrilha, mas após muitas lutas foi considerado inocente pelo STF e voltou para PRF de cabeça erguida e cheio de histórias para contar.
Patrulheiro, chefe de equipe, subchefe de Delegacia e da Sede Operações, chefe de Serviço, coordenador de Ensino e Disciplina, coordenador de RH, e diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal, Adair Marcos Scorsin fez de tudo um pouco dentro da PRF e após 29 anos como servidor público, se viu dentro de uma falcatrua que o afastou da Polícia por mais de 12 anos. Uma armadilha que o colocou como principal suspeito no sumiço de 3.270 talões de vales-alimentação e como investigado em cinco comissões de inquérito. Adair foi vítima de uma ação covarde e orquestrada que foi julgada como desvio de recursos e formação de quadrilha pelo Ministério da Justiça. No dia 15 de maio de 1995, Adair Scorsin, então diretor da PRF, foi demitido do serviço público federal. Nesse meio tempo, o policial não conseguiu manter a vida que levava antes. As filhas tiveram de trancar a faculdade, a família se recolheu, e a vergonha de toda situação do policial, mesmo sendo inocente, transpareceu. Ele se escondia dos parentes, evitava os amigos, desistiu da vida social. Por outro lado, amadureceu e se tornou mais religioso e declara que sua maior lição foi aprender a confiar em Deus.
Adair foi julgado na 2ª turma do Supremo Tribunal Federal, composta pelos Ministros Carlos Ayres de Brito (Presidente), Joaquim Barbosa (Relator), Ricardo Lewandowski (membro) e Gilmar Mendes (membro).
Em entrevista a Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais ele conta sobre a frustração de ser condenado por algo que não fez, o alívio de ter sua inocência provada por decisão unânime do STF e a satisfação de ouvir do próprio Joaquim Barbosa: “Como pode ser imputado de culpa se não existe nada que o incrimine?”
Como foi a sua demissão da PRF?
O grupo que assumiu o DPRF após minha saída, me considerava inimigo e queria me eliminar de qualquer forma. Criaram um documento dizendo que estavam faltando 3.270 talões de vales-alimentação, e nesses documentos disseram que havia indícios do meu envolvimento. E assim formaram mais de cinco comissões de inquéritos, e ao término de cada uma, como nada ficava comprovado contra mim, anulavam e formavam uma outra comissão.
Na última, como já estavam desgastados internamente, recorreram ao Ministério da Justiça e solicitaram que fosse designados outros servidores, foi quando a Polícia Federal entrou no caso. A PF constatou que nada havia sido desviado e apropriado.
O processo foi remetido a Consultoria Jurídica do MJ, onde foi elaborado outro parecer endossado pelo consultor geral e encaminhado ao próprio ministro da Justiça informando que havia dado prejuízo ao erário público, desvio de recursos e formação de quadrilha.
E o que aconteceu com os talões?
Como meu último ato na PRF, havia determinado que todos os talões de Vale-Refeição em estoque fossem devolvidos às operadoras e esses valores fossem transformados em crédito nas futuras aquisições. E foram devolvidos exatos 3.276 talões de vales-alimentação.
Mas durantes todos os inquéritos que respondi, nunca consegui esse documento, pois alegavam que não tinha sido localizado ou simplesmente não existia.
Assim como fui vitima desses ocupadores do poder, muitos outros também foram, pois qualquer um que não fosse alinhado a eles, era inimigo, e tinham de ser tirados do caminho. E muitos companheiros que deram seu sangue para que a PRF alcançasse o lugar onde hoje está, foram perseguidos e eliminados. A justiça é soberana, e a de Deus é maior ainda, não esperem que toda maldade não tenha retorno, tem sim. Pode tardar, mas ela vem. A verdade sempre prevalece.
O que passava pela sua cabeça no tempo em que esteve afastado?
Foi um momento muito difícil, mesmo não devendo, me considerei um lixo. Estava já com 50 anos, perto de me aposentar e do dia para a noite perdi tudo.
Tenho cinco filhos, sendo que três cursavam a faculdade. Um conseguiu terminar o curso, mas duas filhas tiveram de trancar a faculdade.
Muitas e muitas vezes tive minha luz cortada, fiquei sem água, e sem saber como iria suprir as necessidades da casa. Foi muito difícil não ter rendimento, não ter dinheiro, não saber como vai ser o dia de amanhã, mas sobrevivi.
Passei a ter vergonha do meu passado, me afastei de tudo e de todos. Se alguém me perguntasse o que havia feito na vida, desconversava. Tinha vergonha do que tinha acontecido. Se estivesse andando na rua e visse alguém conhecido, ou que conhecessem meu passado, mudava de lado, pois não queria cruzar com ninguém. Fui criado, onde o respeito, a honra, e as coisas alheias são valores eternos.
Como foi ser inocentado por decisão unânime do STF?
Foi o momento mais esperado de minha vida. Minha família e eu sabíamos da minha inocência, mas isso tinha de ser provado, e isso veio da forma mais clara e indiscutível que poderia ser. Diretamente do Supremo Tribunal Federal.
Como vítima de um processo infame e sujo, depois de passados longos 12 anos, estava reabilitado e com a alma lavada.
Após todo esse acontecimento, o que foi acrescentado à sua experiência, vida e conhecimento?
O que passei nesse período foram momentos difíceis, principalmente o começo, mas eu tinha DEUS em minha vida, e Nele sempre tive forças para lutar, ELE nunca me faltou em momento algum, mesmo nos momentos de maiores dificuldades e angustias.
Tenho uma família maravilhosa, sempre estivemos unidos, e digo de coração que nós vencemos!
Não dependi de ninguém para sobreviver, mas sobrevivi dignamente com meu trabalho e suor, reaprendi a trabalhar, e se não fosse essa situação, jamais teria o conhecimento que hoje possuo e a experiência que adquiri nestes anos.
Meu retorno às fileiras da PRF veio coroar uma injustiça. A forma com que fui recebido, o respeito que esses meus novos companheiros demonstraram, as manifestações de apreço, enfim, só tenho motivos para diariamente agradecer a Deus a vitória que me concedeu.
Voltei a ter orgulho da minha vida profissional, ando novamente de cabeça erguida, hoje posso dizer aos meus netos quem fui. A mesma foto que está na parede da diretoria do DPRF e na da superintendência aqui em Curitiba, enfeita também a minha sala de visita.
E pela Portaria nº 300 de 19 de Fevereiro de 2013, da Coordenação Geral de Recursos Humanos, conquistei, com muita honra, minha aposentadoria.
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