15

jan/2014

Só em 2013, 8.375 pessoas morreram nas rodovias federais

Mesmo com o rigor da Lei Seca, as frequentes campanhas educativas e o aperto na fiscalização, transitar por rodovias federais ainda pode ser tão arriscado quanto atravessar um campo minado, sobretudo nos feriados. Relatório da Polícia Rodoviária Federal, obtido com exclusividade pelo GLOBO, informa que, só em 2013, 8.375 pessoas morreram, e 103.075 ficaram feridas em 185.877 acidentes registrados nas estradas federais. O relatório da PRF mostra ainda que 38.079 motoristas foram flagrados dirigindo depois de ingerir algum tipo de bebida alcoólica. Desses, 11.668 acabaram presos. Os números não incluem estradas estaduais e outras vias.

Em 2012, 31.782 motoristas foram multados por dirigir embriagados nas estradas federais, e 8.701, presos pelo mesmo tipo de infração. Foram para a cadeia motoristas que se recusaram a fazer o teste do bafômetro ou que apresentaram mais de seis decigramas de álcool por litro de sangue. A PRF diz, no entanto, que o aumento de flagrantes não implica necessariamente uma elevação do número de motoristas bêbados. A polícia argumenta que intensificou a fiscalização. Ano passado, fazia uma média de 40 testes para cada motorista multado por alcoolemia. Em 2012, bastavam 20 testes.

Para a PRF, depois do excesso de velocidade e das ultrapassagens em locais proibidos, o uso de bebida alcoólica ainda é um dos mais sérios problemas nas estradas. A polícia entende que a Lei Seca serviu de freio para alguns motoristas, mas muitos ainda dirigem depois de beber, mesmo sabendo do perigo de uma eventual prisão ou de envolvimento em acidentes.

Com a soma de acidentes nas cidades e em estradas estaduais, a PRF estima que o número de mortos por ano no trânsito no país pode chegar a 50 mil. Seria uma média de 20 a 25 mortos em acidentes em cada grupo de cem mil habitantes. Números de uma verdadeira guerra no trânsito. Nos países da Europa, essa média gira em torno de 7 mortos por cem mil.

Os números de vítimas são inferiores aos dados contabilizados em 2012, quando a Polícia Rodoviária Federal anotou 8.661 mortos e 104.386 feridos em nada menos que 184.503 acidentes. Em termos proporcionais ao tamanho da frota brasileira, os dados representam redução de 10,1% nas mortes, 8,3% no número de feridos e 6,4% nos acidentes.

Comparação com a Guerra do Vietnã

Segundo Paulo César Marques, professor de Engenharia de Tráfego da Universidade de Brasília (UnB), trata-se de uma redução importante, que deve ser devidamente assinalada. Mas, ainda assim, o quadro ainda é assustador. Pelas metas estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) e endossadas pelo governo federal, o Brasil terá que diminuir à metade os números de acidentes, de feridos e de mortos no trânsito até 2020.

— A redução (de acidentes e mortes apontadas pela PRF) é importante. Mas a violência ainda está em patamares elevados. O número de mortos no trânsito no Brasil por ano é o mesmo número de americanos mortos em toda a Guerra do Vietnã — afirma o professor.

Pelo relatório da PRF, mais de 90% dos acidentes são causados por excesso de velocidade e ultrapassagem em local proibido, entre outros fatores que revelam imprudência ou imperícia de motoristas. O restante estaria relacionado à má conservação das estradas e à sinalização deficiente. Só no passado, a PRF multou 966.067 motoristas por excesso de velocidade e 320.421 por ultrapassagens em locais proibidos.

Alguns motoristas foram flagrados dirigindo a mais de 200 quilômetros por hora, bem acima dos limites das pistas. Alguns motoristas não se intimidam. Ano passado, numa rodovia da Serra Gaúcha, dois motociclistas morreram em batida com um caminhão apenas dez quilômetros depois de terem sido multados e advertidos sobre os riscos do excesso de velocidade.

Só no ano passado, a PRF apreendeu 117,6 toneladas de maconha, 34% a mais que em 2012. A apreensão de cocaína caiu 12%, mas 5,9 toneladas da droga foram retiradas de circulação.

A diretora-geral da PRF, Maria Alice Nascimento, reconhece que ainda são elevados os números de mortos e feridos nas estradas federais. Mas diz que os números estão em queda nos dois últimos anos, e que a tendência é que isso continue. Ela afirma que o governo tem investido em qualificação profissional e na modernização tecnológica da PRF, e que os resultados já estão aparecendo.

Mas Maria Alice é pessimista em relação aos indicadores da violência no trânsito das rodovias estaduais e das cidades. Em encontros com autoridades de trânsito de estados e prefeituras, a diretora da PRF tem ouvido frequentes queixas sobre baixos investimentos e desmotivação de profissionais da área:

— Acho que deveria haver mais investimentos nessas áreas também. Hoje, a quantidade de mortos no trânsito é praticamente a mesma de pessoas assassinadas. Criou-se a cultura de dirigir de forma agressiva. A gente tem que mudar essa cultura. Tem que haver conscientização.

Fonte: O Globo

COMPARTILHAR