O trânsito matou 122 pessoas em três dias do feriado do carnaval. Até o fim da folia, com certeza, fará mais vítimas. O balanço divulgado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) atesta redução da violência em relação ao mesmo período do ano passado: 27,4% no caso de acidentes; 24,4% no de feridos e 9,6% no de perda de vidas.
Aparentemente animadoras, as cifras não traduzem salto qualitativo no convívio de asfalto e volante. Segundo especialistas, a queda se deve a mudança de comportamento. Com a ascensão das classes C e D, maior número de brasileiros teve acesso ao transporte aéreo. A venda de passagens no período da folia de momo aumentou 13% em comparação com 2010. O percentual significa 3 milhões de passageiros.
Menos veículos nas vias constitui causa substantiva para a diminuição dos acidentes de trânsito. Mas outros fatores contribuíram para que a ida ao carnaval não se transformasse em banhos de sangue. Técnicos ouvidos pelo Correio Braziliense chamaram a atenção para o avanço da fiscalização, que se tornou mais inteligente.
O passo à frente se deve à integração entre as polícias. As estaduais deram as mãos à Polícia Rodoviária Federal. A união de esforços aumentou a eficácia da árdua tarefa de prevenir acidentes e coibir abusos. De sexta-feira a domingo, a PRF abordou 80 mil veículos. Cerca de 15 mil motoristas tiveram de se submeter ao crivo do bafômetro. Nada menos de 701, por ultrapassarem o nível alcoólico permitido, precisaram abandonar a estrada. Quase a terça parte deles foi obrigada a dirigir-se à delegacia.
Trata-se de bom sinal. A sensação de impunidade incentiva abusos que custam vidas, roubam braços produtivos, sobrecarregam o equipamento hospitalar. Apesar da lei seca e da intensa cobertura da imprensa, a irresponsabilidade continua a imperar na relação motorista-volante. Em 2011, 27 mil condutores receberam multa nas estradas federais por dirigirem alcoolizados.
O “comigo não acontece” dá chance ao azar. Policiamento ostensivo inibe os irresponsáveis que têm complexo de Deus. A punição exemplar também contribui para a volta à realidade dos falsos mortais. Pisar o acelerador, ultrapassar os limites de velocidade, desrespeitar a sinalização, ignorar o código de trânsito tem preço. Ele precisa ser cobrado integralmente. No jogo duro em que a moeda são vidas, não há lugar para liquidação.
Correio Braziliense