Por *Arlete Gudolle Lopes
Os brasileiros estão estarrecidos com a corrupção que eclode em todas as esferas de governos. Por que isso ocorre? Para se entender essa chaga, deve-se reportar à época do descobrimento quando o povo herdou os estigmas da marginalidade, lembrando que o Brasil teve a origem a partir de brancos, negros e índios. O branco, oriundo da escória renegada pela sociedade de Portugal à época da colonização, que veio para povoar a nova terra, constituía-se de degredados, ladrões, assassinos e prostitutas. O negro, tornado escravo à força, era visto como uma raça inferior e, para sobreviver, assimilou a conduta irregular dos brancos. Já o índio, por ser o mais indefeso, perdeu a identidade e se viu corrompido pelos outros dois. Ao se misturarem as três raças, surgiu um povo propenso a tirar proveito de tudo e essa miscigenação, acrescida de maus hábitos legados por imigrantes europeus, deixou marcas indeléveis na cultura brasileira.
Através de atos praticados entre familiares, amigos e desconhecidos, pode-se avaliar a extensão dos danos causados pela aculturação de valores pouco aceitáveis. As tão decantadas mentiras sociais, o ato de furar a fila de espera, a necessidade de quem indica para se conseguir emprego não servem como atitudes a serem condenadas? A mãe que manda o filho mentir que não se encontra em casa está induzindo-o à cultura da aceitabilidade do que é errado. O transeunte, ao apossar-se de flor ou planta de jardim público ou privado, infringe regras de respeito ao alheio. Os donos e os gerentes de comércio que usam de múltiplos estratagemas para camuflar beleza, peso, inclusive a validade dos produtos e as propagandas enganosas não podem ser arrolados como exemplos negativos? O pai motorista, que dirige desrespeitando regras de trânsito, serve como péssimo modelo de condutor ao filho, cuja conduta irregular poderá ser reproduzida por este. Alguém que, ao receber um valor a mais por conta de pagamento ou troco, ao não denunciar o lapso, não pratica ato reprovável?
Outros exemplos poderiam ser arrolados, sem esquecer os milhares de brasileiros que procuram levar vantagem em tudo, que se vangloriam de usar o famigerado jeitinho e praticam, sem remorso, o toma lá da cá. Por tais argumentos e por ser um povo muito crédulo, torna-se vulnerável ao assédio à corrupção, à desonestidade e à alienação, além de que, por ter memória volátil, olvida os erros cometidos por ele e, principalmente, por políticos. Tanto é que muitos destes, mesmo tendo sido condenados por ilegalidades várias, elegem-se com facilidade. Para se combater esse cancro nacional, só existe uma saída: investir nas crianças, oferecendo- lhes educação centrada em bons princípios, valores e exemplos de dignidade, honra, amor à pátria e à família. No entanto, sem que haja o comprometimento dos adultos por se esforçarem a agir com correção, nada mudará.
*Arlete Gudolle Lopes é professora
Fonte: Jornal Zero Hora