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mar/2012

Na Rio+20, governo tem desperdício a mostrar

Prédios de órgãos públicos e estatais ficam com luzes acesas toda a noite.  Ex-ministro sugere medir emissões da área federal

Depois de um dia trabalho, o prédio do Ministério de Minas e Energia
continua  com as luzes acessas, mesmo sem servidores
Sergio Marques / Agência O  Globo

BRASÍLIA – Preocupada com a imagem do Brasil enquanto país sede da Rio + 20 ,  a presidente Dilma Rousseff pediu aos ministros que façam um levantamento com  iniciativas positivas para serem apresentadas na conferência, em junho. O  objetivo é divulgar casos de sucesso nas áreas econômica, social e ambiental — mas, a quatro meses do evento, as pastas ainda não sabem o que mostrar. O que se  destaca no dia a dia de Brasília, com raríssimas exceções, são comportamentos  nada ecológicos.

O Ministério das Minas e Energia é um dos maus exemplos na capital. Depois de  um dia de trabalho, o prédio continua com as luzes acesas, mesmo sem servidores.  Seu vizinho na Esplanada, o Ministério das Comunicações, segue o exemplo de  desperdício.

No Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — que fez concurso para ampliar seu  quadro de servidores há duas semanas e espera encher um prédio recém-concluído — as luzes acesas após o expediente revelam o vazio dos andares traçados por Oscar  Niemeyer. Questionada sobre o desperdício, a assessoria do TSE argumentou que o  sistema novo de iluminação precisa ser testado, o que levaria cerca de um  mês.

No Palácio do Planalto, percebem-se poucos avanços ecológicos, mesmo após a  reforma do prédio, que custou R$ 140 milhões. Os elevadores continuam a  desperdiçar energia. E nada mudou na coleta de lixo que, no prédio principal,  continua a ser feita sem separar o material reciclável. Nos banheiros, a falta  de calibragem faz com que as torneiras soltem jatos abundantes de água.

Do outro lado da rua, no Senado Federal, a crise política vivida há três anos  teve uma consequência nada ecológica: o grupo conhecido como Senado verde foi  dissolvido.

— Tem muito grupo na Casa que só existe para aumentar salário de servidores,  mas o nosso não era assim, o trabalho era muito bacana — diz uma das  integrantes.

A equipe apresentou soluções para vários problemas de desperdício na Casa,  mas não conseguiu resolver o principal: o gasto excessivo de papel.

Nos corredores do Congresso, carrinhos acumulam volumes enormes com os  projetos que serão votados. Impossível ler tanto documento em uma única sessão,  por isso técnicos e parlamentares se guiam pelos índices. Todos os dias, 70 mil  folhas são impressas e distribuídas para as comissões. No Supremo Tribunal  Federal, o problema é o mesmo. Para cada julgamento, uma pilha de papel  acompanha cada ministro no plenário.

Para o ex-ministro da Fazenda Paulo Haddad, o governo teria de fazer um  medidor de emissão de gás carbônico, um de desperdício de água e outro do  desmatamento no Brasil, nos moldes do Impostômetro que existe em São Paulo.  Essas medidas provocariam uma reação da sociedade e forçariam uma mudança de  postura.

Mas Haddad elogia o progresso das leis nos últimos 20 anos, que deixou o país  na melhor posição entre os vizinhos da América Latina em relação à política  ambiental.

— Não está bom, mas vai bem. Falta dar status para a política ambiental no  Brasil. O país está no rumo certo, mas num ritmo insuficiente — diz Haddad,  acrescentando que o governo preparou com mais cuidado a Eco 92 do que a  Rio+20.

— Cada ministério vai mostrar suas experiências ao governo, mas ainda não  temos um prazo definido — informa o ministro Rodrigo Baena, um dos organizadores  do evento.

No Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, que deveria ser uma das vedetes  da Rio + 20, a informação sobre os casos de sucesso ainda é precária. Sabe-se  apenas que a explanação será sobre a redução do ritmo de desmatamentos. Não há  informação sobre outros assuntos, porque ainda não foi definido o espaço que o  órgão terá na conferência.

Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Guarani Osório, o país  está na contramão do desenvolvimento sustentável quando insiste em construir  usinas termelétricas e investir no pré-sal, enquanto a China se preocupa em  limpar sua matriz energética. Ele também sugere que o governo faça um  levantamento das próprias emissões para apresentar na Rio + 20.

Na iniciativa privada, por outro lado, há bons exemplos de racionalidade  ambiental. Marina Carlini, consultora de sustentabilidade da Suzano Papel e  Celulose, conta que esta reduziu 20% das emissões de gás carbônico em uma de  suas unidades gerenciando resíduos sólidos. A empresa ainda passou a registrar o  seu impacto no ambiente.

O Ministério das Minas e Energia não quis comentar o desperdício de energia  no prédio. O das Comunicações informou que não utiliza todos os andares do  edifício e disse que naqueles que utiliza (do 3º ao 9º andar) o sistema de  iluminação é antigo e não há interruptores em cada sala. A pasta disse que isso  está sendo corrigido por meio de reformas.

O Ministério do Turismo informou que orienta o serviço de vigilância do 2º e  3º andares para apagar as luzes imediatamente após a saída do último servidor de  cada ala. Mas disse que, às vezes, “alguns servidores permaneçam nas  dependências do prédio além do horário de expediente”.

Na cidade que irá sediar o Rio+20, os prédios de empresas públicas repetem o  mau exemplo. Na última quinta-feira, entre 20h15m e 20h30m, em foto feita a  partir de Santa Teresa, o edifício da Petrobras tinha boa parte de seus andares  às claras. A estatal, cujo sistema desliga as luzes automaticamente às 19h,  disse que as lâmpadas podem ficar acesas após esse horário se algum departamento  pedir. Somente os serviços que são contínuos, como o da segurança, precisam de  luz 24 horas, argumentou a Petrobras.

No BNDES, 50% dos 22 andares são desligados automaticamente às 20h30m. A  outra metade tem horário flexível, o que inclui as áreas de emergência e a  central de processamento de dados. Os andares da diretoria e da presidência  ficam com as luzes acesas até as 23h. O banco argumentou que alguns  departamentos podem funcionar após as 20h30 e que três andares estão em obras, o  que ocorre à noite.

Banco do Brasil (BB) e Caixa não têm sistema automático para apagar as luzes.  No BB, as lâmpadas são desligadas de forma manual. O banco disse ainda que  alguns andares funcionam 24 horas por dia. Na Caixa, as lâmpadas são desligadas  por eletricistas plantonistas, a partir das 20h. Segundo o banco, o prédio  concentra todas as suas unidades administrativas no Rio, sendo que algumas delas  têm horário de funcionamento estendido, após as 20h, e até mesmo de 24 horas. A  Caixa disse ainda que nove andares estão em reformas, feitas durante a  madrugada.

Fonte: O Globo

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