Prédios de órgãos públicos e estatais ficam com luzes acesas toda a noite. Ex-ministro sugere medir emissões da área federal
Depois de um dia trabalho, o prédio do Ministério de Minas e Energia
continua com as luzes acessas, mesmo sem servidores
Sergio Marques / Agência O Globo
BRASÍLIA – Preocupada com a imagem do Brasil enquanto país sede da Rio + 20 , a presidente Dilma Rousseff pediu aos ministros que façam um levantamento com iniciativas positivas para serem apresentadas na conferência, em junho. O objetivo é divulgar casos de sucesso nas áreas econômica, social e ambiental — mas, a quatro meses do evento, as pastas ainda não sabem o que mostrar. O que se destaca no dia a dia de Brasília, com raríssimas exceções, são comportamentos nada ecológicos.
O Ministério das Minas e Energia é um dos maus exemplos na capital. Depois de um dia de trabalho, o prédio continua com as luzes acesas, mesmo sem servidores. Seu vizinho na Esplanada, o Ministério das Comunicações, segue o exemplo de desperdício.
No Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — que fez concurso para ampliar seu quadro de servidores há duas semanas e espera encher um prédio recém-concluído — as luzes acesas após o expediente revelam o vazio dos andares traçados por Oscar Niemeyer. Questionada sobre o desperdício, a assessoria do TSE argumentou que o sistema novo de iluminação precisa ser testado, o que levaria cerca de um mês.
No Palácio do Planalto, percebem-se poucos avanços ecológicos, mesmo após a reforma do prédio, que custou R$ 140 milhões. Os elevadores continuam a desperdiçar energia. E nada mudou na coleta de lixo que, no prédio principal, continua a ser feita sem separar o material reciclável. Nos banheiros, a falta de calibragem faz com que as torneiras soltem jatos abundantes de água.
Do outro lado da rua, no Senado Federal, a crise política vivida há três anos teve uma consequência nada ecológica: o grupo conhecido como Senado verde foi dissolvido.
— Tem muito grupo na Casa que só existe para aumentar salário de servidores, mas o nosso não era assim, o trabalho era muito bacana — diz uma das integrantes.
A equipe apresentou soluções para vários problemas de desperdício na Casa, mas não conseguiu resolver o principal: o gasto excessivo de papel.
Nos corredores do Congresso, carrinhos acumulam volumes enormes com os projetos que serão votados. Impossível ler tanto documento em uma única sessão, por isso técnicos e parlamentares se guiam pelos índices. Todos os dias, 70 mil folhas são impressas e distribuídas para as comissões. No Supremo Tribunal Federal, o problema é o mesmo. Para cada julgamento, uma pilha de papel acompanha cada ministro no plenário.
Para o ex-ministro da Fazenda Paulo Haddad, o governo teria de fazer um medidor de emissão de gás carbônico, um de desperdício de água e outro do desmatamento no Brasil, nos moldes do Impostômetro que existe em São Paulo. Essas medidas provocariam uma reação da sociedade e forçariam uma mudança de postura.
Mas Haddad elogia o progresso das leis nos últimos 20 anos, que deixou o país na melhor posição entre os vizinhos da América Latina em relação à política ambiental.
— Não está bom, mas vai bem. Falta dar status para a política ambiental no Brasil. O país está no rumo certo, mas num ritmo insuficiente — diz Haddad, acrescentando que o governo preparou com mais cuidado a Eco 92 do que a Rio+20.
— Cada ministério vai mostrar suas experiências ao governo, mas ainda não temos um prazo definido — informa o ministro Rodrigo Baena, um dos organizadores do evento.
No Ministério do Meio Ambiente, por exemplo, que deveria ser uma das vedetes da Rio + 20, a informação sobre os casos de sucesso ainda é precária. Sabe-se apenas que a explanação será sobre a redução do ritmo de desmatamentos. Não há informação sobre outros assuntos, porque ainda não foi definido o espaço que o órgão terá na conferência.
Para o pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV) Guarani Osório, o país está na contramão do desenvolvimento sustentável quando insiste em construir usinas termelétricas e investir no pré-sal, enquanto a China se preocupa em limpar sua matriz energética. Ele também sugere que o governo faça um levantamento das próprias emissões para apresentar na Rio + 20.
Na iniciativa privada, por outro lado, há bons exemplos de racionalidade ambiental. Marina Carlini, consultora de sustentabilidade da Suzano Papel e Celulose, conta que esta reduziu 20% das emissões de gás carbônico em uma de suas unidades gerenciando resíduos sólidos. A empresa ainda passou a registrar o seu impacto no ambiente.
O Ministério das Minas e Energia não quis comentar o desperdício de energia no prédio. O das Comunicações informou que não utiliza todos os andares do edifício e disse que naqueles que utiliza (do 3º ao 9º andar) o sistema de iluminação é antigo e não há interruptores em cada sala. A pasta disse que isso está sendo corrigido por meio de reformas.
O Ministério do Turismo informou que orienta o serviço de vigilância do 2º e 3º andares para apagar as luzes imediatamente após a saída do último servidor de cada ala. Mas disse que, às vezes, “alguns servidores permaneçam nas dependências do prédio além do horário de expediente”.
Na cidade que irá sediar o Rio+20, os prédios de empresas públicas repetem o mau exemplo. Na última quinta-feira, entre 20h15m e 20h30m, em foto feita a partir de Santa Teresa, o edifício da Petrobras tinha boa parte de seus andares às claras. A estatal, cujo sistema desliga as luzes automaticamente às 19h, disse que as lâmpadas podem ficar acesas após esse horário se algum departamento pedir. Somente os serviços que são contínuos, como o da segurança, precisam de luz 24 horas, argumentou a Petrobras.
No BNDES, 50% dos 22 andares são desligados automaticamente às 20h30m. A outra metade tem horário flexível, o que inclui as áreas de emergência e a central de processamento de dados. Os andares da diretoria e da presidência ficam com as luzes acesas até as 23h. O banco argumentou que alguns departamentos podem funcionar após as 20h30 e que três andares estão em obras, o que ocorre à noite.
Banco do Brasil (BB) e Caixa não têm sistema automático para apagar as luzes. No BB, as lâmpadas são desligadas de forma manual. O banco disse ainda que alguns andares funcionam 24 horas por dia. Na Caixa, as lâmpadas são desligadas por eletricistas plantonistas, a partir das 20h. Segundo o banco, o prédio concentra todas as suas unidades administrativas no Rio, sendo que algumas delas têm horário de funcionamento estendido, após as 20h, e até mesmo de 24 horas. A Caixa disse ainda que nove andares estão em reformas, feitas durante a madrugada.
Fonte: O Globo