06

fev/2012

A greve da PM e a crise da segurança pública na Bahia

Por Edmilson Lopes Jr.

Salvador, que já detém índices elevados de homicídios para cada 100 mil habitantes, contabilizou, em três dias de greve dos policiais militares baianos, nada menos que 78 assassinatos. Em meio ao caos, atos de vandalismo e medo generalizado que tomam conta da capital e das principais cidades do estado, há que se ressaltar a iniciativa enérgica do governador Jacques Wagner, que incorporou o Governo Federal (Força Nacional, Exército e Polícia Federal) no enfrentamento de uma situação que compromete não o seu governo, mas a vida econômica e a integridade física dos baianos.

Não se trata, por certo, de negar a justeza de algumas das reivindicações do movimento paredista da Polícia Militar, mas, sim, de chamar a atenção para o fato de que nenhuma autoridade responsável poderia tolerar um dia a mais sequer de um movimento que, por ação ou omissão, traduz-se em mortes, terror e desestabilização da ordem pública. A situação da PM baiana, infelizmente, não é isolada. Em diversos estados, a insatisfação com os baixos salários foi gestando uma cultura de ressentimento e aversão aos governos estaduais. Por isso mesmo, o desenlace da crise na Bahia será acompanhado com lupa por policiais e dirigentes de outras unidades da federação.

Se é que é possível encontrar algo de positivo em uma situação tão dramática, poder-se-ia afirmar que tal positividade é exatamente a forte presença do Governo Federal na Bahia provocada pela greve. Ao se deslocar para Salvador para ser um dos atores do gerenciamento da crise, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, sinaliza algo importante: a segurança pública no país não pode mais ficar à mercê das ações de corporações e de governos estaduais. No entanto, essa sinalização é ainda meramente simbólica, dado que não é a tradução de uma política substantiva do Estado brasileiro para gestão da segurança pública no país.

Além das vidas humanas tragadas pela violência que assomou a capital baiana e dos prejuízos econômicos sofridos, o movimento paredista dos policiais baianos produziu uma situação cujos desdobramentos futuros são imprevisíveis. Se a radicalização do movimento não poderia deixar de ter a devida resposta da autoridade constituída, as prisões e processos contra as lideranças do movimento podem acentuar ainda mais o ressentimento da base da corporação contra o governo. Em alguns dias, baixada a poeira, outros atores precisam entrar em cena para que canais de negociação sejam restabelecidos e os rescaldos da greve não se traduzam em mais caos e sofrimento para a população baiana.

Com essa armação, a crise gerada pela greve da PM exigirá uma presença mais demorada das forças federais na Bahia. Esse fato é, em si mesmo, positivo. Até porque, sabemos todos, até bem recentemente o Governo Federal fingia que as crises das polícias estaduais não lhe dizia respeito.

Façamos um exercício de “Poliana” e apontemos alguma luz em uma semana na qual as trevas tentaram dominar parte do território nacional: se o caos de agora for corretamente enfrentado, a gestão dessa crise servirá de modelo para os enfrentamentos vindouros em outras unidades da federação. Algo que, para quem conhece como andam as disposições das corporações em outras unidades federativas, não é pouco.

*Edmilson Lopes Júnior é professor de sociologia na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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