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abr/2012

Crônica de uma asfixia anunciada

Nos últimos 20 anos a carga tributária da  economia brasileira foi multiplicada por 1,5. Passou de 24% para 36% do  PIB. Um aumento de nada menos que 12 pontos percentuais do PIB. Não há  hoje no mundo outra economia emergente relevante com carga tributária  tão alta quanto a do Brasil. E o pior é que a carga continua a aumentar.  Só no ano passado, o salto foi da ordem de 1,5% do PIB.

“A  elevação sem fim da carga tributária vai acabar sufocando o crescimento  econômico do país.” Tal advertência vem sendo repetida ad nauseam há  muitos anos. E, no entanto, a maior parte da opinião pública tem reagido  a esse prognóstico com a fleuma de quem toma conhecimento de que o sol  está em inexorável processo de esfriamento. A percepção típica tem sido a  de que a advertência aponta para um problema importante a ser  enfrentado no futuro distante, quando, de fato, passar a merecer  atenção.

A má notícia, para quem tinha tal percepção do problema, é  que o futuro chegou. A elevação sem fim da carga tributária está,  afinal, sufocando o crescimento da economia brasileira. Não da economia  como um todo. Por enquanto, o que vem sendo claramente sufocado é o  dinamismo de boa parte da indústria de transformação. Até mesmo Brasília  parece ter-se dado conta disso.

Com o anúncio do pacote da semana  passada, o governo reconheceu de forma cabal que muitos segmentos da  indústria já não têm mais condições de arcar com a parte que lhes cabe  na carga tributária que vem sendo imposta à economia. O agronegócio, a  mineração e a extração de petróleo continuam tendo perspectivas  promissoras. E, apesar de toda a voracidade da extração fiscal, a  produção de serviços, resguardada da concorrência externa, vem  conseguindo manter o crescimento. Parte da indústria, contudo, exposta à  concorrência das importações, vem perdendo competitividade a olhos  vistos, depauperada pela tributação exagerada e pelo custo Brasil  despropositado, decorrente, em grande medida, da deficiência com que os  três níveis de governo se desincumbem dos papéis que lhes cabem na  oferta de serviços públicos e na expansão da infraestrutura.

O  problema é que o governo mostra total despreparo para lidar com os  desafios de uma agenda de redução efetiva da carga tributária. Porque,  simplesmente, não contava com isso. Muito pelo contrário, vinha  apostando todas as fichas na possibilidade de manter a arrecadação  crescendo bem acima do PIB, para que o gasto público pudesse continuar  em rápida expansão, em consonância com seu projeto político.

O que  mais impressiona nesse despreparo é a negligência com que o governo  trata possibilidades concretas de redução de carga tributária. Nas  últimas semanas, voltaram a ganhar destaque as queixas da indústria  contra a brutal carga tributária que recai sobre energia elétrica e  serviços de telecomunicação. A reação do governo federal tem sido a de  alegar, mais uma vez, que há muito pouco o que a União possa fazer a  esse respeito, já que a maior parte do problema decorre das alíquotas  extorsivas de ICMS com que os estados taxam tais insumos.

No  entanto, ao mesmo tempo em que vem fazendo tais alegações, o governo vem  negociando com os governadores a adoção de novas regras de indexação  das dívidas dos estados com a União. Como era fácil prever, a abertura  dessa caixa de Pandora já deu lugar a um festival de propostas  irresponsáveis de renegociação das dívidas estaduais, como bem ilustra o  projeto que ganhou corpo no Senado. Mas, apesar do risco de perda de  controle da renegociação, tudo indica que o governo vai mesmo oferecer  aos estados um pacote de bondades, com redução dos encargos das suas  dívidas com a União. O que parece inexplicável, contudo, é que até agora  não tenha havido a mais vaga menção à possibilidade de que a redução  desses encargos esteja de alguma forma vinculada à diminuição das  absurdas alíquotas de ICMS cobradas pelos estados sobre energia elétrica  e telecomunicações. Como se isso pouco importasse ao governo federal. E  não fosse crucial para o país.

Autor: Rogério Furquim Werneck

Fonte: O Globo

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