29

jun/2012

Demagogia na educação

Às vésperas do início do recesso legislativo e já com as atenções voltadas  para a campanha eleitoral, a comissão especial da Câmara dos Deputados  encarregada de examinar o projeto do novo Plano Nacional de Educação (PNE)  aprovou em votação simbólica, e em clima de assembleia estudantil, a emenda que  obriga o poder público a destinar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a área  de educação nos próximos dez anos.

Atualmente, o País gasta 5% do PIB com as redes públicas de ensino básico,  médio, técnico e superior – o que está na média dos países desenvolvidos. Em  2003, o gasto era de 3,9% do PIB, tendo passado para 4,3%, em 2007; e para 4,7%,  em 2009. Elaborado pelo governo Lula, o projeto do PNE previa um gasto de 7% do  PIB, até 2020. Mas, desde que o projeto chegou ao Congresso, em 2010, movimentos  sociais, ONGs e entidades de estudantes e de professores pleiteavam 7,5% do PIB.  Essas entidades tiveram o apoio de parlamentares governistas, que – contrariando  o Palácio do Planalto – apresentaram emendas com o objetivo de destinar ao setor  educacional metade dos royalties do pré-sal.

Alegando que o Executivo ampliou as verbas para o setor na última década e  que os investimentos na exploração da camada do pré-sal só terão retorno a longo  prazo, o governo resistiu a essa reivindicação. Mas, pressionado pelas  corporações discentes e docentes, que durante anos estiveram sob controle do PT,  o Palácio do Planalto negociou um aumento de 7% para 7,5% do PIB. A elevação de  0,5% do PIB no orçamento da educação pública representa R$ 25 bilhões a mais em  investimentos.

Além disso, no decorrer das negociações, o relator do projeto do PNE, Ângelo  Vanhoni (PT-PR), cedeu às pressões de colegas que invocam a necessidade de  financiar a implantação do regime de tempo integral na rede pública de ensino  fundamental e propôs o patamar de 8%. A proposta contrariou a Casa Civil e o  Ministério da Fazenda. Nas últimas semanas, os movimentos sociais, ONGs e  entidades de estudantes e docentes aumentaram as pressões e, sob o pretexto de  valorizar o magistério público e triplicar a oferta de matrículas da educação  profissional e técnica de nível médio, a comissão especial aprovou uma emenda do  deputado Paulo Santiago (PDT-PE), fixando em 10% do PIB o gasto mínimo do poder  público em educação. Os parlamentares também fizeram outras mudanças no projeto  do PNE, que tem validade decenal. Eles anteciparam para o sexto ano de vigência  do plano a meta de igualar o rendimento médio dos professores da rede pública de  ensino básico com o dos docentes dos demais níveis de ensino. O projeto previa a  equiparação no décimo ano. E determinara a aprovação, em um ano, de uma lei de  responsabilidade educacional, para assegurar padrões de qualidade em cada  sistema de ensino.

O problema da educação brasileira, contudo, não é de escassez de recursos. É,  sim, de gestão perdulária – como foi evidenciado pelo Reuni, o programa de  expansão do ensino superior do governo Lula, que custou R$ 4 bilhões. Sem uma  avaliação cuidadosa do setor, foram criadas escolas onde não havia demanda,  admitidos alunos antes de existir instalações adequadas, criados cursos noturnos  nas universidades federais e contratados mais docentes sem que houvesse  candidatos preparados para as vagas abertas. Nas discussões sobre o PNE, os  deputados deixaram de lado este problema e outro tão ou mais importante – a  impossibilidade de o poder público continuar aumentando seus gastos em ensino  sem modificar os objetivos e as formas de atuação do sistema de ensino.

Terminada a votação, o MEC divulgou nota afirmando que, se for obrigado a  gastar 10% do PIB em educação, o governo terá de tirar R$ 85 bilhões dos outros  Ministérios da área social.

O projeto foi aprovado na comissão em caráter definitivo e só passa pelo  plenário da Câmara se houver recurso. No Senado, o Planalto espera que o projeto  seja votado após as eleições, quando os senadores poderão agir mais  responsavelmente do que os deputados.

Autor: O Estado de S. Paulo

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