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set/2012

E a eficiência do serviço público?

Por José Pastore

No livro organizado por Edmar Bacha e Simon Schwartzman (Brasil: a nova  agenda social, Rio de Janeiro, LTC, 2011), os autores indicam que os serviços  públicos brasileiros, com poucas exceções, são extremamente precários para  aquilo que custam: 12% do PIB! Uma avaliação realizada pela Organização para  Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou igualmente que os  conceitos de eficiência e produtividade são praticamente inexistentes no serviço  público brasileiro (OCDE, Avaliação dos recursos humanos do Brasil, Rio de  Janeiro, 2010).

Apesar de tantas constatações desse tipo, pouco se discutiu o assunto durante  a greve dos 300 mil servidores públicos federais. Não seria esta a hora de saber  a quantas anda a qualidade dos serviços públicos nas escolas, nos hospitais,  órgãos de segurança, tribunais de justiça e tantos outros?

Os aumentos concedidos pelo governo não tiveram nenhuma vinculação com a  melhoria do atendimento à população. A administração dos recursos humanos do  governo se resume à negociação de salários e benefícios, e nada sobre qualidade  dos serviços.

Reconheço que a maioria dos servidores é recrutada por meio de provas  difíceis em que demonstram conhecer a profissão. Os concursos públicos vêm  despertando grande interesse pois, além da estabilidade de emprego, oferecem  salários iniciais bem acima dos do setor privado. Mas, passada a fase de  recrutamento, os servidores públicos são pouco estimulados a trabalhar com  eficiência. As promoções se baseiam muito mais no tempo do que na qualidade dos  serviços. Para a conquista de melhores salários e benefícios, a força das  corporações sindicais passa por cima da avaliação da produtividade. Nos poucos  casos em que há bônus atrelado ao desempenho, o sistema é rudimentar e, com  frequência, é atropelado pelos sindicalistas que forçam a administração a  abandonar o expediente ou a generalizar o bônus. Não sei o que é pior.

Estamos longe de quadros efetivamente comprometidos com a prestação de  serviços de alta qualidade. Há poucos incentivos para estudar e crescer nas  carreiras públicas. Inexiste, no Brasil, um sistema de prestação de contas do  serviço oferecido, nem para servidores nem para os órgãos públicos. Os valores  de eficiência, atenção, apreço, cordialidade, etc., são desconhecidos da maioria  e não fazem parte de um sistema de cobrança efetivo. Nem temos mecanismos de  pressão que possam ser utilizados pelo público para demandar melhoria de  atendimento. No setor privado, onde os empregados podem perder o emprego e a  empresa pode perder market share, ganhar muito ou pouco é função da qualidade do  trabalho. No setor público, com honrosas exceções, a combinação do monopólio na  prestação de serviços com a estabilidade de emprego faz perpetuar a baixa  qualidade dos serviços prestados.

Convenhamos, administrar recursos humanos não se resume a negociar salários.  É preciso avaliar o que as pessoas entregam à empresa e, no caso do governo, aos  cidadãos. Falta ao setor público uma gestão de pessoal que tenha como norte a  busca permanente da competência e da qualidade. Nela, a remuneração é uma das  ferramentas para chegar à eficiência. Os gestores precisam ter alçada para  diferenciar as recompensas de acordo com o desempenho dos funcionários. Isso vai  muito além de uma política de salários.

Em suma, precisamos eliminar o abismo que existe entre a racionalidade dos  concursos de ingresso e a precariedade do sistema de avaliação dos servidores ao  longo dos 30 anos que sucedem ao ingresso. A situação exige uma reforma que  valorize e cobre competência profissional e condutas adequadas dos servidores.  Se isso é de extrema importância nos dias de hoje, será muito mais crítico nos  próximos anos, quando, em decorrência do envelhecimento da população, os  serviços públicos serão ainda mais demandados.

Fonte: O Estado de S. Paulo

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