Na série de reportagens especiais que o Jornal Nacional está apresentando, nesta semana, sobre as viagens de ônibus nas estradas brasileiras, o repórter Rodrigo Alvarez mostra nesta quinta-feira (10) que falta fiscalização e que sobram imprudência e fraudes.
Um motorista quase desaparece na neblina. Muita chuva, pista escorregadia e ele a 110 quilômetros por hora. A máxima no local é de 110, mas só para os carros. Para os ônibus é 90. E ele continua excedendo o que é recomendado para estes casos. A equipe do Jornal Nacional ligou para a Polícia Rodoviária para denunciar o ônibus.
Polícia Rodoviária Federal: Polícia Rodoviária Federal, boa tarde.
Jornal Nacional: Boa tarde. Tem um ônibus que está em excesso de velocidade a mais de 2 horas, desde Curitiba.
Polícia Rodoviária Federal: E qual é o número do ônibus?
Jornal Nacional: É numero 48111.
Polícia Rodoviária Federal: ‘Tá’ bom. Eu vou passar para a nossa viatura da região.
Uma hora depois e a polícia não apareceu. A equipe resolveu parar em um posto da Polícia Rodoviária Federal para informar sobre a velocidade do ônibus que eles vieram acompanhando, mas o posto parecia fechado. Havia um recado.
“Hoje quando as pessoas chegam ao posto e tem um cartaz de “sai para atender uma ocorrência” isso significa falta de policial. Se tivesse mais efetivo o posto não estaria fechado com esse bilhete, esse cartaz avisando que a equipe está no trecho fiscalizando. Nem sempre será possível abordar porque são equipes que podem estar em outras ocorrências”, revela o diretor de fiscalização da Polícia Rodoviária Federal, Julio César Zambon.
A cada dia 2.200 policiais rodoviários patrulham 61 mil quilômetros de estradas federais. São dois policiais para cada 55 quilômetros.
“É tanta demanda que tem na rodovia que tem uma ou outra coisa que acaba ficando prejudicada”, diz o diretor da Federação Nacional da Polícia Rodoviária Federal, Fabiano Viana Santos.
“Você não viu ninguém na estrada, ‘cê’ viu? Se o limite for 60 e a estrada estiver boa, eu ando a 90, não vou mentir”, afirma um motorista.
Em uma única viagem de Curitiba para o Rio de Janeiro, a equipe passou por quatro postos vazios.
“A polícia está reestruturando todo o seu sistema de postos. Ela está redefinindo local e fechando alguns para que aumente o número de rondas no trecho”, conta Zambon.
Policiais rodoviários reclamam da lei que impede a aplicação de multas por excesso de velocidade com base nos tacógrafos. O tacógrafo é um equipamento obrigatório para veículos de transporte de passageiros. Normalmente fica conectado aos velocímetros e, a cada instante da viagem, registra a velocidade em um disco de papel.
“Eu verifico que ele excedeu a velocidade da via, mas eu não posso multar ele somente pelo tacógrafo”, explica Fabiano Santos.
O Conselho Nacional de Trânsito discute mudanças na lei para permitir que o registro de velocidade, feito pelo tacógrafo, sirva como prova de infrações.
”Se você demorar muito na viagem, os passageiros vão reclamar. Sempre reclamam, chamam de roda presa e tudo mais”, conta um motorista.
Sem saber que estava sendo gravado, o motorista disse que a empresa em que ele trabalha adultera os tacógrafos:
“O que dá 90 no meu velocímetro dá 110 no seu. No tacógrafo ele está marcando 90 por hora. Não passa de 90 no aparelho”.
Em 2011, foram 143 mil multas por adulteração e defeitos em tacógrafos, mas não existem dados que comprovem se são as empresas ou os próprios motoristas que adulteram.
“Perigoso é, mas nós temos que fazer horário, né?”, afirma o motorista.
Assista ao vídeo: