22

fev/2012

Não basta reclamar!

*Marília Alves Cunha

Nós brasileiros somos campeões da reclamação. Não sem razão, motivos existem de sobra. Pagamos uma miscelânea de altos impostos, taxas, serviços e, na verdade, não temos muito a comemorar em matéria de retribuição. Falta ao país o essencial para que a população tenha uma qualidade de vida razoável. Não podemos nos orgulhar da saúde pública, do saneamento básico, dos transportes coletivos, da habitação, das rodovias, da segurança pública. Nem da educação, que há muito tempo padece no limbo e que, pelo andar da carruagem, vai permanecer mais um tanto por lá.

Reclamamos dos governantes, dos políticos. Não sem razão. O custo destes senhores é elevadíssimo. E o que recebemos em troca do régio pagamento que a eles fazemos? Escândalos, corrupção, desinteresse pela coisa pública e um acentuado interesse em melhorar sua própria vida. Reclamamos muito e agimos pouco. Continuamos tolerando passivamente este estado de coisas, mesmo que isto resulte em males inaceitáveis, numa sociedade que se diz compromissada com a felicidade das pessoas e com o desenvolvimento do país. Somos coniventes com o grande número de crianças e jovens fora da escola, com o ensino público sem qualidade, com as mortes advindas da falta de atendimento médico/hospitalar, com os milhares de jovens enveredando pela rota perigosa das drogas e do crime, com a falta de políticas públicas para atender as crianças abandonadas e à proteção dos idosos. Muitas mazelas, infelizmente, neste país tão jovem e rico, mancham as instituições e põem em risco a nossa frágil e incipiente democracia.

Somos mestres em reclamar e mestres também em cometer deslizes, alguns deles leves, que vão à conta daquele jeitinho brasileiro de resolver as coisas. Outros graves, que comprometem a vida, a integridade física e moral dos nossos semelhantes. A Lei Seca é um belo exemplo da nossa mania de transgredir: continuamos bebendo e dirigindo, alheios às inúmeras campanhas (“Sou pela vida, dirijo sem bebida”) e nos sentindo protegidos pela garantia da impunidade. No quesito saúde pública, nossa omissão é impressionante. Temos medo da dengue, pois ela compromete nosso bem-estar e põe em risco a nossa vida. As campanhas contra o mosquitinho infernal estão em todos os lugares, mas somos incapazes de agir, lutar objetivamente contra. Os responsáveis pela saúde pública certamente não terão como vigiar nossas casas, nossos terrenos, na caça aos insetos. Esta é uma responsabilidade que teremos de assumir para o nosso próprio bem. Do lixo que fabricamos nem é bom falar. A grande quantidade de objetos jogados nos rios e terrenos vagos — desde plásticos, garrafas até fogões, geladeiras, tanquinhos, sofás etc. — demonstra o nosso descuido para com o meio ambiente. A própria população ao fim padece, castigada pelas enchentes, pela sujeira acumulada e por seu desinteresse pelo bem comum.

Para completar o nosso patrimônio de desacato para com a civilidade e a lei, alguns engraçadinhos, usuários do Twitter, vêm alertando motoristas sobre as blitze feitas nas estradas, blitze estas realizadas para proteger a população de inconscientes que afrontam as regras. Tenha a santa paciência! Reclamar é preciso, exigir o que nos é devido é obrigatório. Mas cumprir a nossa parte constitui dever de cidadania.

* Marília Alves Cunha é Educadora

Fonte: Correio de Uberlândia

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