Após prejuízo da Petrobras, governo deve autorizar aumento de combustíveis este ano. Inflação baixa permitiria correção
Diante do megaprejuízo de R$ 1,346 bilhão que a Petrobras teve no trimestre, o governo já cogita um reajuste dos combustíveis nas bombas para ajudar a companhia a reduzir parte das perdas, diminuindo a desfasagem de preços em relação ao mercado internacional. Embora ainda não esteja decidido quando e como será feita a recomposição, ou se o aumento vai pesar mais no diesel ou na gasolina, há chances reais de que a correção ocorra ainda este ano, já que o cenário de inflação em baixa não colocaria em risco a política de queda dos juros.
Além disso, existe forte apelo para aumentar investimentos, não só da estatal, mas também do setor produtivo.
– Essa questão do preço tem de ser corrigida em algum momento. Não há como continuar desse jeito e a oportunidade para fazer isso é neste ano, com cenário benigno para a inflação – disse um interlocutor da área econômica do governo. – Autorizar o reajuste seria importante para aumentar os investimentos. Daria uma sinalização positiva de que a estatal tem uma política saudável. Um balanço negativo é muito ruim.
A alternativa para evitar o reajuste dos combustíveis seria o governo oferecer algum tipo de subsídio à Petrobras, mas na visão da área econômica, isso não seria “salutar” para uma empresa do porte da estatal, ressaltou o interlocutor.
Defasagem já beira os 20%
Também há uma avaliação de que as eleições municipais não deverão ser empecilho para o reajuste nos preços, apesar do temor de alguns integrantes do governo de um eventual uso político da medida.
Nas contas do governo, a defasagem nos preços dos combustíveis está entre 10% e 15%. Falta bater o martelo se há necessidade de recompor toda a perda ou apenas alinhar os preços à realidade do mercado internacional.
Há nove anos, o preço da gasolina está congelado nas bombas para evitar uma pressão inflacionária. Nesse período, o governo reduziu a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o imposto sobre os combustíveis,para amenizar o impacto do descolamento dos preços no caixa da empresa, que importa petróleo mais caro e vende mais barato os combustíveis no mercado interno. Em junho, o tributo foi zerado e a munição do governo acabou.
No mês passado, o governo autorizou a Petrobras a reajustar o diesel em 6% nas refinarias, com impacto para o consumidor, mas manteve o preço da gasolina inalterado.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a situação tornou-se insustentável. Ele afirmou que a atual direção da Petrobras não terá condições de mudar a situação da empresa e recolocá-la no nível de excelência de antes se o governo, como acionista majoritário, não alterar a política adotada em relação à estatal.
– A nova direção da Petrobras não tem como melhorar a performance da empresa a curto prazo – disse Pires, acrescentando que não é possível contar, no momento, com dois fatores que seriam positivos, a alta no preço do petróleo e o câmbio.
Para ele, medidas como a melhoria da eficiência operacional só surtem efeito a médio e longo prazos. Pelas contas do consultor, a defasagem média, entre abril e junho, é de 16% na gasolina e de 21,7%, no diesel. Mas, na sua opinião, dificilmente haveria espaço para um reajuste nessas proporções, uma vez que o impacto seria muito elevado para os consumidores.
Ele avalia, contudo, que repor apenas parte das perdas – um reajuste entre 8% e 10% – já seria suficiente para animar o mercado e minimizar os efeitos da intervenção estatal na empresa.
– O mercado espera isso há nove anos – disse Pires.
Fonte: O Globo