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maio/2013

Que país é este?

Em 1978, quando ainda estava na banda Aborto Elétrico, Renato Russo compôs um de seus maiores sucessos, gravado somente nove anos depois, pela Legião Urbana. Uma das primeiras canções politizadas do rock nacional a se destacar, Que país é este? quase não foi lançada em disco porque Renato tinha a esperança de que o Brasil iria melhorar, a ponto de deixar caduca sua letra de protesto. Lamentavelmente, as razões para aquela crítica em forma de música continuam atualíssimas e deveriam levar a juventude a refletir mais sobre a realidade e os riscos que a envolvem.

Com o seu peculiar vigor e com trechos de puro deboche, o mesmo estilo proibido recentemente nas provas do Enem, o bardo pintava um cenário de crescente violência e roubalheira que a democracia não conseguiu conter e, sob certos aspectos, até deixou se agravar. “Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação”, cantava ele. Se estivesse vivo, talvez Renato estivesse compondo outros hinos de indignação civil, inconformado com tanta conformação da maioria dos jovens. A vontade de perguntar que país é este é grande ao se listar a série de mazelas e absurdos cotidianos que deixam cada vez mais cínicas as falas de autoridades.

Até mesmo quem está dentro das máquinas corrompidas do poder já não mais consegue esconder os sinais de descontrole em torno dos chamados “malfeitos”, a forma eufemística como a presidente Dilma Rousseff prefere se referir à corrupção dentro e fora do governo. Ela já até aposentou a vassoura da tal faxina moral que chegou a esboçar em 2011. Mas, juntamente com todos os demais cidadãos, é obrigada a ouvir declarações preocupantes sobre a bandalheira geral, como as do deputado e ex-governador fluminense Anthony Garotinho e do atual governador paulista Geraldo Alckmin. “Isso aqui (Congresso) não pode virar o Show do Milhão”, diz o primeiro. “Vai faltar guilhotina”, completa o segundo.

Que país é este? É aquele cujos maus exemplos de cima incentivam os crimes lá de baixo. Exemplos? Leite e gasolina adulterados, a rotina de caixas eletrônicos dinamitados, sequestros relâmpagos, estupros em vans e ônibus, escolas violentas, e ações de quadrilhas partidárias. Este é o país que o rock profetiza, cujas instituições fraquejam e no qual a democracia precisa corrigir rápido.

 

Fonte: Correio Braziliense

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