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abr/2012

“Tapa na cara” em curso operacional – pode?

Por *Danillo Ferreira

O bordão “pede pra sair” ficou celebrizado com o filme Tropa de Elite, onde o Capitão Nascimento, personagem encenado por Wagner Moura, estapeia um aluno do Curso de Operações Especiais em que é instrutor. Na cena, Nascimento pretende desligar do curso um policial que, segundo ele, recebe dinheiro do tráfico:

Uma notícia que circulou na imprensa do estado do Rio Grande do Norte na última semana se relaciona com esta “prática” adotada pelo personagem do diretor José Padilha. Segundo se tem divulgado, um soldado que realizava um curso operacional teria recebido um “tapa na cara” dado por um aluno a oficial, e revidou a agressão:

Um soldado não suportou a humilhação de ter levado um tapa na cara de um aluno oficial e danou-lhe a mão na “taba do queixo” do cabra também. Simples assim. Bateu levou.

Depois do ocorrido, o soldado foi desligado do curso, claro. No perfil de uma rede social o militar descreve a situação, demonstrando tristeza e revolta pela forma como o curso vem sendo desenvolvido.

Segundo ele, não havia necessidade de o treinamento utilizar de práticas abusivas e violentas, mesmo se tratando do preparo psicológico e físico de homens que servirão no Grupo Tático de Operações (GTO).

Ao todo 30 homens foram convocados e recebi a informação de que 18 já “pediram para sair”.

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Muito se ouve falar deste tipo de prática em cursos operacionais mais “rigorosos” – notadamente nos cursos de operações especiais, que habilitam seus formandos a ostentarem brevet’s (insígnias) de caveira. Os que defendem implicitamente estes métodos, que em ambientes razoáveis são considerados humilhações, assédios e até crimes, afirmam que eles servem para despir os participantes do curso de certos pudores e vaidades. Ou mesmo que são postos como obstáculos para que os instruendos conheçam seus limites.

O problema é que, já faz algum tempo, não se admite mais alcançar certos objetivos através de meios degradantes ao ser humano (isto se, de fato, os teóricos destes métodos podem demonstrar que eles levam aos efeitos anunciados). Não haverá meio de amenizar a vaidade e os pudores dos alunos e fazê-los conhecer seus limites de forma, digamos, mais tecnicamente aperfeiçoada?

Sem questionar a excelência de qualquer curso policial, principalmente os de operações especiais, que formam os melhores policiais em termos de técnicas e táticas de ações repressivas no Brasil e no mundo, é preciso indagar, porém, se certas práticas não servem apenas para restringir(!) a quantidade de policiais bem preparados, dando vez a intenções perversas individualizadas que fogem ao objetivo primordial de qualquer prática pedagógica policial: formar profissionais aptos a determinados serviços. Precisamos de menos fetiche e preciosismo, mais técnica e profissionalismo.

Danillo Ferreira Tenente da Polícia Militar da Bahia, associado ao Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduando em Filosofia pela UEFS-BA. | Contato: abordagempolicial@gmail.com.

Fonte: Blog Abordagem Policial

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