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maio/2012

Operação o quê? Quantos morreram?

Não é nova a tenda de circo montada pela Polícia Rodoviária Federal quando são realizadas as tais ”Operações”. Operação Tiradentes, Operação Férias, Operação isso, Operação aquilo; a quantidade é de dar inveja até mesmo ao Hospital das Clínicas de São Paulo.

No afã de conseguir espaço na mídia, a PRF comporta-se como o bobo da corte. A velha política da concessão de entrevistas após os feriados, que leva palavras que chocam, e ao mesmo tempo acalantam a população, travestidas de estatísticas idiotas, no fundo servem apenas para assegurar a integridade do salto daqueles detentores de DAS e do próprio governo federal. A ordem é reforçar que as coisas estão melhorando. Puro engodo! Compara-se Natal com Ano Novo, Independência com Proclamação da República, Inverno com Verão e até Carnaval com Semana Santa, o que, neste caso, poderia criar uma rusga entre pagãos e cristãos.

Os policiais são condicionados, desde que ingressam na carreira, a apresentar justificativas acerca dos acidentes registrados ao longo das rodovias federais, normalmente apontando as falhas na condução dos veículos automotores. Prestar explicações sobre o número de acidentes, mortos e feridos é compreensível. Mas quantas vezes se houve a fala: ”A maior causa dos acidentes foi a imprudência dos motoristas”. A verdade é que a PRF avoca para si uma responsabilidade que ela presume ser sua: remoer e redundar explicações que justifiquem a causa dos acidentes. De certa forma, precisa justificar sua presença nas rodovias.

Uma reflexão importante deve ser considerada: se a PRF for completamente retirada das rodovias durante um feriado, será que os números serão significativamente maiores? É quase certo que não! E não porque esta Polícia seja ruim. Pelo contrário, em números relativos é a que apresenta a melhor produtividade do Brasil, especialmente quando se trata de apreensões. A conclusão mais lógica e simples é: ”o Brasil possui péssima infraestrutura de transportes”! E com o governo incentivando o consumo, a frota de veículos tende a crescer em proporções quase geométricas, uma política diametralmente oposta aos incentivos aplicados à infraestrutura.

Rodovias que não suprem a demanda, esburacadas, mal dimensionadas, sem acostamento, sem sinalização vertical e horizontal, sem alambrados de proteção, sem balança, etc. Poder-se-ia aqui elencar uma centena de problemas. Basta analisar o caso dos cinco jovens mortos em abril último, entre o norte do Espírito Santo e o sul da Bahia. Qual a primeira causa suscitada para o acidente? Imprudência por excesso de velocidade, é claro. Todavia, ao se analisar as condições da via, percebe-se uma tonelada de irregularidades de ordem estrutural.

O que o Órgão Executivo Rodoviário da União (CTB, art. 21) se propõe, além de mal-gerenciar seus contratos? Apresentar uma solução de ”sucesso”: limitar a velocidade da maioria das vias a 80km/h, marca que as carroças tracionadas a pangarés turbinados conseguem transpor! Pergunta-se agora, quando foi que os gestores daquele órgão foram à mídia prestar esclarecimentos sobre os acidentes? Não há menor necessidade, visto que os PRFs o farão e colocarão a culpa sempre no condutor, culpa esta que pode se reverter contra a própria Polícia, por suposta negligência na fiscalização. No fim das contas, quem leva a paulada na cabeça é quem aparece no importuno momento: a Polícia Rodoviária Federal.

A PRF deve parar de acobertar as mazelas infraestruturais do transporte rodoviário brasileiro, ou então apresentar uma solução drástica para o problema: quem sabe, limitar ainda mais a velocidade máxima das rodovias (talvez 40 km/h) e instalar um quebra-molas a cada 50m. Pode-se assegurar, dessa forma, que os acidentes serão severamente contidos. Viva o Brasil!

Autor: Desconhecido


Opinião enviada para a Diretoria de Comunicação e Divulgação da FenaPRF através da página Contato no dia 3 de maio. O autor declarou ser PRF, porém, preferiu não se identificar.

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