08

abr/2012

Futuro incerto

Por Policarpo

Tema em discussão: Fundos de Previdência Complementar dos Servidores

Policarpo - Deputado Federal (PT-DF)

A  criação do Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos  Federais, aprovada pelo Senado Federal no dia 28 de março, partiu de  premissas equivocadas, como o suposto déficit da Previdência. A  aprovação do projeto foi precipitada, pois era necessário esperar um  pouco mais para que todos os efeitos da Reforma da Previdência feita em  2003 se refletissem nas contas públicas. Análises apontam que o sistema  está convergindo para o equilíbrio.

Prova disso é que, no Regime  Próprio do ano de 2003, o governo federal recebeu R$ 2 bilhões em  contribuições e pagou cerca de R$ 23 bilhões, ou seja, arrecadou menos  de 10% do que pagou. Sete anos mais tarde, em 2010, o número de  contribuições recebidas aumentou em dez vezes, chegando a R$ 20 bilhões,  e o de benefícios pagos atingiu R$ 49 bilhões, ou seja, o governo  arrecadou 40% do que pagou.

É importante destacar que o projeto  aprovado diz que os fundos serão pessoas jurídicas de direito privado,  ferindo assim o artigo 40 da Constituição Federal, que estabelece  “entidades fechadas de previdência complementar, de natureza pública”  para administrar a Previdência Complementar dos servidores.

Baseado  em leis complementares que fixam regras para a previdência do regime  geral, o fundo não atende as peculiaridades do setor público. O Funpresp  cria um cenário de insegurança jurídica, pois entrega a aposentadoria  dos servidores às oscilações do mercado financeiro.

É preciso  considerar também que o teto do regime geral é muito baixo e que não há  qualquer tipo de garantia aos servidores públicos em caso de perdas de  valores decorrentes de má gestão ou de qualquer outro fator e quanto ao  ressarcimento das contribuições realizadas em favor do INSS.

O  projeto aprovado também causa temor em relação à forma de participação  dos servidores na composição dos conselhos deliberativos, fiscais e  diretorias executivas. Embora haja previsão de composição paritária, a  presidência dos conselhos deliberativos será exercida por representante  dos patrocinadores (Executivo, Legislativo e Judiciário), o que permite a  participação de terceiros não interessados, com a indicação de  profissional de fora dos quadros do serviço público.

Os membros  das diretorias executivas serão nomeados exclusivamente pelos conselhos  deliberativos, o que comprova que a paridade na composição dos órgãos  será uma divisão para “inglês ver”. Na prática, os servidores não terão  voz ativa na condução das deliberações e da gestão dos fundos.

Este  fundo trará uma indubitável perda à qualidade do serviço público como  um todo. É importante lembrar que, ao lado da estabilidade empregatícia,  a aposentadoria é um dos principais atrativos para a escolha de uma  carreira pública.

Sem esse benefício, é bastante plausível que  muitos dos quadros mais qualificados desistam da opção pública e outros  nem queiram mais ingressar na carreira. No futuro, toda a sociedade será  prejudicada.

POLICARPO é deputado federal (PT-DF).

Fonte: O Globo

COMPARTILHAR