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jul/2012

Motoristas ainda enfrentam lentidão de 19 km na Via Dutra

Polícia Rodoviária Federal fiscaliza os tacógrafos de todos os caminhões | Foto: G1

A lentidão no sentido Rio da Rodovia Presidente Dutra, onde é realizado um protesto de caminhoneiros, caiu para 19 quilômetros no início da tarde desta segunda-feira. Durante a manhã, o congestionamento na via chegou a 21 quilômetros na altura de Barra Mansa, no Sul Fluminense. Os manifestantes ocupam pistas nos dois sentidos da rodovia desde às 4h desta segunda. O protesto no local ocorre desde a tarde de domingo, quando os dois sentidos chegaram a ser fechados pela primeira vez, mas foram parcialmente liberadas após os caminhoneiros negociarem com a Polícia Rodoviária Federal (PRF). O bloqueio está concentrado próximo ao quilômetro 273, na altura do bairro de Vila Ursulino, em Barra Mansa.

A Nova Dutra confirmou que grevistas formaram mais duas barreiras, na tarde desta segunda-feira, em outras duas cidades do Sul Fluminense. Uma delas está localizada no quilômetro 302, em Resende, no sentido Rio, e a outra no quilômetro 228, em Piraí, próximo à Serra das Araras, no sentido São Paulo. Nos dois locais, o congestionamento chega a dois quilômetros. No fim da manhã, uma faixa da Via Dutra foi liberada no sentido Rio, altura de Barra Mansa, depois de cerca de seis horas de interdição. O sentido São Paulo tem oito quilômetros de lentidão.

Segundo a PRF, Nélio Botelho, líder do movimento, exige que um representante da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que regula a atividade da categoria, vá até o local para negociar. Os caminhoneiros afirmam que a pista será liberada assim que a negociação começar.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos, Francisco de Bitencourt Ferreira, os caminhoneiros protestam contra a Lei 12.619, de 30 abril de 2012, que regulamenta a jornada de trabalho da categoria. A norma obriga o trabalhador a ter descanso de onze horas entre duas jornadas de trabalho, uma hora por dia de parada para almoço e repouso de 30 minutos a cada quatro horas rodadas, além de limitar a jornada a oito horas diárias. Se não cumprirem esta carga horária, os motoristas podem ser multados pela Polícia Rodoviária Federal.

Segundo a concessionária Nova Dutra, 2,5 mil caminhões participam da manifestação. A PRF ressalta que o único meio de liberar totalmente a estrada é pela negociação. Ainda segundo os agentes que estão no local, a Operação Tartaruga, anunciada pelo Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais, não estaria atrapalhando a atuação da PRF no local.

O vice-presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários do Rio (SPR), Ranir Almeida, disse que o sucateamento da PRF no Rio impediu que o serviço de inteligência do órgão detectasse o movimento dos caminhoneiros que está provocando o caos na Rodovia Presidente Dutra, em Barra Mansa. Segundo Almeida, a PRF tem 600 homens no Rio, dos quais 150 em funções administrativas. Os demais trabalham nas rodovias em regime de turnos. Segundo ele, o efetivo básico não é o ideal e deveria ser de mil homens.

— Nós não temos efetivo para atuar em contenção de distúrbios. Não há pessoal para isso. Se a inteligência detectasse o movimento dos caminhoneiros, o transtorno não estaria acontecendo. Os acidentes são atendidos emergencialmente, mas não há como cumprir missões não emergenciais porque não temos gente na pista. Este é o motivo também do fechamento de vários postos da PRF no Rio. O governo tem que se mobilizar para resolver o problema — reclamou o líder sindical.

Motoristas passam a madrugada na estrada

A manifestação pegou de surpresa até mesmo alguns caminhoneiros. Morador de Nova Iguaçu e motorista de uma empresa que presta serviços de Sedex, Clei Anderson Santos, de 32 anos, disse que não concorda com a forma com que a manifestação está sendo feita.

— Se eu tentar furar o bloqueio, corro o risco de ter caminhão danificado. Existem outras formas de se manifestar. Poderia ter sido feito um ato em Brasília, que não prejudicasse as pessoas — sugeriu.

Clei tinha uma encomenda para entregar às 6h40m em Campinas, no estado de São Paulo, mas está parado no acostamento no sentido São Paulo desde meia-noite e meia.

Já o comerciante Marcelo Oliveira de Alencar, de 45 anos, saiu às 4h30m de Resende e somente por volta das 10h conseguiu fazer o retorno em um posto da PRF e retornar a sua cidade.

— O que estão fazendo é um absurdo. Vi ambulância com paciente, com atendimento marcado no Into, no Rio. Nada contra fazer protesto, nada contra a classe protestar. Mas as manifestações precisam ser feitas de formas mais respeitosas — criticou.

O policial rodoviário federal André Cunha, do posto de Floriano, em Barra Mansa, afirmou que a corporação está tendo muita dificuldade em fazer o trânsito fluir no sentido Rio da Via Dutra. — Já tivemos informações de que um caminhão foi depredado ao tentar furar o bloqueio. O comando da greve não está deixando nenhum caminhão passar.

O movimento não está recebendo a adesão de todos os caminhoneiros. Muitos deles, com carga perecível, tentam furar as barreiras, mas são impedidos.

A greve dos rodoviários vem causando transtorno e muita revolta entre os motoristas. Na altura do município de Quatis, no Sul Fluminense, os grevistas estão impedindo a passagem de qualquer tipo de veículo. O superintendente de um hospital de Niterói, Aílton Maia, está viajando desde domingo, vindo de Foz do Iguaçu. Ele criticou a forma que o movimento está sendo conduzindo no Rio.

— Estamos parados há três horas e meia. No Paraná também havia greve, mas eles estavam organizados e deixavam os carros de passeio trafegar. Aqui é uma bagunça, um desrespeito — reclamou.

O aposentado Nei Reis e a esposa Maria da Piedade estão parados há cinco horas e meia. — Saímos às 8h de Passa Quatro, no sul de Minas. Estamos com sede e fome. Estão barrando todo mundo, é um absurdo — disse Nei, morador da Tijuca, na Zona Norte do Rio.

No Twitter, muitos usuários reclamam do engarrafamento, que começou na tarde de domingo. Por volta das 23h30m, Marcelo Romão tuitou: “Minha esposa está presa há 5 horas na Dutra, sem água sem comida. Alguém tem dar fim essa manifestação! Isso é um absurdo!”.

“Crianças pequenas com fome, vontade de ir ao banheiro e idosos passado mal nos ônibus”, contou Sérgio Lima na rede de microblogs nos primeiros minutos desta segunda-feira.

O prefeito de Volta Redonda, Antônio Francisco Neto (PMDB), saiu de sua cidade às 4h para um encontro com o ex-presidente Lula em São Paulo. Ele disse que conseguiu passar em direção a São Paulo, mas constatou que a situação é crítica em direção ao Rio:

— Os caminhões estão parados no acostamento e nas duas pistas. As autoridades precisam buscar uma solução urgente para o problema. Domingo foi o último dia das férias escolares. Muitas famílias que estavam em Itatiaia e em cidades paulistas estão voltando ao Rio e ficaram presas no engarrafamento. É um prejuízo para todo mundo. A reivindicação dos caminheiros é justa, o governo precisa negociar, mas as pessoas que não têm nada com isso não podem ser prejudicadas — afirmou o prefeito.

Para quem está em Barra Mansa e quer fugir do congestionamento na Dutra, a opção é seguir pelo distrito de Rialto. O motorista que optar por este trajeto deve entrar no bairro Bocaninha, seguir em direção a Colônia Santo Antônio, onde passará pela estrada de acesso a Rialto. Depois de cortar o distrito, o motorista deve entrar na estrada rural que dá acesso a Floriano, também em Barra Mansa, ou Bananal, em São Paulo.

Já quem deseja sair da Via Dutra, pode entrar no posto de combustível, em Floriano, onde terá acesso a estrada rural até Rialto. Mas, os motoristas devem ter cuidado, pois, a passagem é estreita. A outra alternativa é passar pelo bairro Santa Rita do Zarur, em Volta Redonda, e sair no distrito de Nossa Senhora do Amparo, em Barra Mansa, seguir 22 quilômetros por um estrada de chão até a cidade de Quatis, ou ainda sair em Floriano. Esta é a melhor opção para quem pretende seguir na Via Dutra, no sentido São Paulo.

Caminhões com legumes não conseguem chegar ao Rio

Muitos caminhões que transportavam legumes para Ceasa pela Dutra não conseguiram chegar ao Rio, afirma o presidente da Associação Comercial dos Produtores e Usuários da Ceasa Grande Rio (Acegri), Waldir Lemos. Segundo ele, dos 60 caminhões carregados de batatas vindos de São Paulo e do Paraná que chegariam à Ceasa, apenas dez conseguiram passar pelo protesto

— Os caminhões estão presos na altura de Barra Mansa, por essa razão os legumes não sairão com o preço padrão. A batata, que normalmente custa R$ 40 a saca, hoje (segunda) está chegando a R$ 100. Certamente esse valor será repassado para o consumidor — diz ele.

Centro de Barra Mansa congestionado

O congestionamento provocado pela manifestação de caminhoneiros na Via Dutra já afeta o Centro de Barra Mansa, por onde a estrada passa. A Guarda Municipal informou que as vias principais da cidade, que é cortada pela rodovia, estão paradas devido ao engarrafamento.

Os guardas estão nas principais saídas da cidade para orientar os motoristas. Já os agentes da 5ª delegacia da Polícia Rodoviária Federal, na Rodovia Lúcio Meira (BR-393), pedem aos caminhoneiros que seguem na pista sentido Volta Redonda para aguardar o fim da manifestação em posto de gasolina e no pátio dos postos da PRF, às margens da estrada.

Segundo a PRF, a recomendação é para prevenir uma complicação no trânsito em Volta Redonda, onde as duas rodovias são interligadas. Caso o fluxo de veículos aumente na BR-393, o congestionamento da Dutra pode avançar por Volta Redonda.

Acidente na Avenida Ayrton Senna deixa sete feridos

Uma batida com duas vans e um carro ocorreu na Avenida Ayrton Senna, altura do Hospital Municipal Lourenço Jorge, por volta das 8h. O acidente deixou sete pessoas levemente feridas, ainda não identificadas. Elas foram encaminhadas para o Hospital Municipal Miguel Couto. Três faixas da via ficaram ocupadas até as 9h. Uma faixa ficou interditada até as 11h, e o trânsito continua lento para quem segue para orla pela Ayrton Senna.

Fonte: O Globo

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